COMO SE FOSSE O ULTIMO PEDIDO
Estou bem cedo na chácara com seu Valdemar, está começando aquilo que ele chama de lida, que seria quase como uma rotina, milho para as galinhas, água e comida para os porcos, regar a horta e terminar aquele serviço que começou ontem. De repente paramos para tomar um café e ele me diz:
- Eu tô meio desconfiado que tem algum bicho comendo meus franguinhos.
Ao ouvir isso, fiz uma cara meio seria e olhando para o seu cachorro, como se estivesse apontando pra ele com os olhos, lhe pergunto se não está colocando a raposa para cuidar de seu galinheiro. Ele entendeu minha pergunta e respondeu:
- Não, esse cachorro não teria coragem de fazer isso, eu já fiquei observando, e ele nunca nem ameaçou pegar um pinto se quer.
Foi então que ele se lembrou como o pessoal do Ceará se livravam das raposas, quando elas resolviam ser sócias de seus galinheiros. Disse ele:
- Era muito facinho, eles pegavam um prato e colocavam cachaça dentro, e levavam para o mato onde elas estavam passando. Antes de chegarem no galinheiro, elas encontravam o prato de cachaça, e ai, enchiam a cara, chegavam a lamber o prato, era ai que vinha o efeito, saiam cambaleando, e não muito longe, quando não eram mortas pelos cachorros, não escapavam das bengaladas.
Ao me contar essa história ele ainda me disse que naquela época os velhos que tiravam versos até fizeram um para este triste fim da pobre raposa:
Me bebi-me na fartura,
Simplesmente na doçura
No saltar de um riacho
Já me corria no faro
Uma cadela escura
E antes da minha morte
Ainda tive um bom regalo
Lá pra cima da nascente
Ainda vi cantar um galo