O ECONOMICAMENTE CORRETO

A reciclagem sempre foi o esporte mais praticado por seu Valdemar, talvez o prego seja o objeto mais reciclado em seus trabalhos. A necessidade de comprar um quilo de prego só existia quando não havia mas pregos para serem reciclados. Sempre que desmanchava uma parede de madeira, uma cerca ou um telhado, ele juntava todos os pregos retirados daquelas tabuas e ripas e no intervalo de um serviço e outro, enquanto descansava, depois de um café e um cigarro, lá estava ele diante de sua vasilha de pregos tortos, e com paciência começava o serviço de alinhar e desentorta-los para que fossem usados nas próximas obras.

Fui na chácara outro dia e lhe encontrei fazendo um portão, notei que os pregos que usava, estavam tortos e já haviam sido usados, parecia que não haviam passados pelo serviço de alinhamento, então lhe perguntei:

- Meu pai, esses pregos estão muito velhos, acho que deveria comprar outros.

Ele então saiu com essa:

- Não meu filho, eu não acho que eles estejam tão velhos assim, esses pregos foram os que sobraram do caixão do tio Juvênço.

E concluiu:

Tio Juvênço, morreu pouco tempo depois da maior seca que deu no Ceará em 1915, era um velho muito trabalhador.

Depois de dar aquela gargalhada, fiquei imaginando se aqueles pregos falassem, teriam muitas história pra contar dos lugares em que passaram.