ANIVERSÁRIO DE QUARENTA ANOS DA TURMA 1/1980, DE VOLUNTÁRIOS AO QUADRO SUPLEMENTAR DE TAIFA (QST)

Relato de um Sonho Sonhado por muitos Jovens Sonhadores –e perdão pela redundância proposital.

Regressão ao dia três do mês de novembro do ano de mil novecentos e oitenta.

Aniversário de quarenta anos da Primeira Turma de Voluntários ao Quadro Suplementar de Taifa (QST), cujo patrono foi Almirante Gastão Mota, no antigo Quartel de Marinheiros, situado na Avenida Brasil, no bairro da Penha, na cidade do Rio de Janeiro.

Nesse dia se apresentavam cerca de trezentos jovens em busca de um sonho, do qual poucos ou quase ninguém fazia ideia de como seriam suas carreiras, de busca, de entrega, de suor e de amor à pátria, e apesar dos quase quarenta anos e de seu aniversário, bem próximo de chegar, muitos buscavam a segurança de uma maior solidez, pois viver neste país lindo, imenso e maravilhoso, nunca foi uma missão fácil, dadas as intempéries políticas.

Em breve alguns se tornariam militares da gloriosa Marinha de Guerra do Brasil!

Antes dessa apresentação, porém, houve uma enorme fila, que ia do Quartel, passando pelo viaduto da Av. Lobo Júnior, indo até depois da antiga fábrica da De Millus. Cerca de três mil candidatos, o que dá uma média, ainda existente nos dias atuais, de cerca de dez por cento.

Um verdadeiro sufoco, mas passaríamos por outros.

Rapazes de toda parte do Estado do Rio de Janeiro, assim como também da capital, reservistas ou não, desde que tivéssemos até vinte e cinco anos de idade, incompletos. E de outros estados também, assim como eu, oriundo do Estado do Espírito Santo.

Eu era então o um dos alunos, mas não vou falar individualmente de cada um dos “premiados”, até porque não conseguiria, mas havia muitos grupos, como é comum nas mais diversas empresas e com alguns ainda mantemos contato. São os considerados especiais e sei que existe uma reciprocidade. Turma é Turma e as lembranças, boas ou más, são comuns.

Uma tenra idade e a hora da decisão, para cada um, acertada ou não, mas a omissão pode nos trazer algo ainda pior.

Histórias cada qual tem as suas. Emoção também. Agradecimentos ou arrependimentos também deixaremos a critério de avaliações individuais. Com relação a mim, não me arrependo de nada, pela disciplina sob a qual passei a viver e oportunidade de ser alguém, o que só faz de mim hoje, um ainda jovem ancião.

Canção também rolou e isso, pasmem, em pleno regime Militar, o que alguns chamam de DITADURA, mas quem viveu naquele período, sabe que não foi bem assim.

Fizemos uma adaptação ou paródia, de um grande e antigo sucesso do considerado rei Roberto Carlos, com seu eterno parceiro, Erasmo Carlos, à época, mas nós também tínhamos os nossos parceiros na Turma e sempre que ensaiávamos, algum monitor mandava “cessar”. E nós que não nos calássemos!

Bons tempos e a canção vou transcrever abaixo e quem estava lá, se lembrará... Adaptação essa feita sem nenhuma maldade, mas em plena Lei de Censura. Muito arriscado!

“Guerra de Meninos” Roberto e Erasmo ou “Guerra de Alunos”, em nossa mais inocente visão:

“Hoje eu tive um sonho/foi o mais bonito/qu’eu sonhei em toda minha vida/

sonhei que todo mundo/vivia acomodado/dormindo em bom colchão sem pernilongos/quando às cinco horas da manhã/o homem auxiliar do monitor/soou o seu apito/e eu pulei num grito/e a realidade retornou...

La, la, la, la, la, la, la. La, la, la, la, la-ia-ai, ai, ai, a, a...

La, la, la, la, la, la, la. La, la, la, la, la-ia-ai, ai, ai, a, a...

Peguei minha escova/corri para o banheiro/não tinha uma torneira disponível/saí todo apressado/e sendo atropelado/tentando me safar de qualquer jeito/e quando chega a hora do almoço/tenho que fazer mais um esforço/na fila muita gente/chaleira(babão)entra na frente/ e quando entro/ só sobrou arroz...

La, la, la, la, la, la, la. La, la, la, la, la-ia-ai, ai, ai, a, a...

La, la, la, la, la, la, la. La, la, la, la, la-ia-ai, ai, ai, a, a...

Depois a Ordem Unida/chega causar feridas/marchando toda tarde no sol quente/ouvindo o Instrutor/xingando o Pelotão/mandando marchar mesmo sem razão/e outros que marchavam mais além/chorando e reclamando igual neném/pediam pra parar com a ralação...

La, la, la, la, la, la, la. La, la, la, la, la-ia-ai, ai, ai, a, a...

La, la, la, la, la, la, la. La, la, la, la, la-ia-ai, ai, ai, a, a...

-Mais ou menos isso aí.

“Aluno não tem direito a nada” ou “ aluno é a imagem do cão”. Quá, quá, quá...que bom!

Do início do mês de novembro de 1980, até meados do mês de janeiro de 1981, muitos desistiram no caminho e os poucos que eu ainda vi, desses desistentes depois, se arrependeram. Uma questão de opção. Não foi nada fácil, mas foi gratificante e enriquecedor e também, se fosse fácil, talvez não tivesse graça, e no Juramento à Bandeira, quanta emoção e lágrimas para os familiares ali presentes e orgulhosos, pelas gotas de suor e o percentual de cada um nos sacrifícios, mas valeu e tem valido o esforço desprendido e é claro, só respondo por mim.

Mas per’aí que não acabou, não!

Não poderia me furtar de falar das “artes” e “travessuras”, comuns numa Turma de aproximadamente trezentos alunos, nessa faze da vida, que compreende a saída da adolescência para as responsabilidades de adulto.

Confusões e até brigas, bagunça no auditório, nos alojamentos e até a necessidade fisiológica feita por alguém no auditório. Quem foi? Ninguém sabia. Ou paga um ou paga todo mundo. Silêncio absoluto da/na Tropa. E então veio a ordem:

Todo mundo pra fora!

Pô, tava chovendo pra caramba e mesmo assim ninguém entregou ninguém.

Não sei quais foram as sequelas, individualmente falando e só sei que peguei um baita resfriado, que evoluiu, até porque, naquela parte da avenida Brasil, era muito quente e ainda era verão. O Rio é um Estado normalmente muito quente, mas a impressão que dá é que todo calor se concentrou ali. E para piorar, existia um canal imundo, lamentavelmente, entre os fundos do Quartel e a Ilha do Governador, com vista privilegiada para o Aeroporto Internacional do Galeão e haja mosquitos, como se fosse nuvens de gafanhotos atacando a lavoura. Credo em Cruz, mas sobrevivemos, ficando uma grande e valiosa lição:

- se alguém entregasse alguém ali, seria uma constatação de que esse alguém está habituado a trair, e traição é crime sujeito a fuzilamento. Nunca vi ninguém ser fuzilado, mas se for em Regime de Guerra, essa é a pena máxima. Sério, né?!

Enfim formados, fomos distribuídos e eu juntamente com mais alguns, fomos designados para a Diretoria de Saúde da Marinha (DSM). Já era um prêmio e dali pedi para Servir no Sanatório Naval de Nova Friburgo, por seu clima ameno, na tentativa de fugir do calor sufocante da capital, mas acabei indo para o Hospital Naval Nossa Senhora da Glória (HNSG) e outra vez premiado, haja vista que eu –juntamente com mais dois CAMPANHAS, iniciaríamos nossas carreiras, numa Organização Militar (OM), sob o Comando de Oficiais da área de saúde e o bem maior: em plena rua Conde de Bomfim, uma das vias arteriais do tradicional bairro da Tijuca, próximo do famoso Largo da Segunda Feira, vizinha ao Colégio Militar, administrado pelo Exército Brasileiro (EB), referência de ensino no país, onde foi construída uma das estações do metrô, inaugurada pelo então Presidente de República, General João Batista de Figueiredo, o último dos Generais e como foram bons e proveitosos aqueles anos de paz, progressos e evoluções, que nós assistimos ao vivo. O velho e lendário Hospital cedeu lugar para uma Policlínica, mantendo o seguimento do nome de batismo, mas o lirismo ainda permanece vivo em mim e cada qual sabe das suas flores e espinhos, pois tudo na nossa Marinha muda, assim como da água para o vinho. Êita tempo bom!

Cada um que conte a sua versão a respeito de suas histórias, uma vez que não dá para falar de todos, haja vista não ter convivido com todos, muitíssimos importantes nas formações individuais e/ou coletivas e enquanto estiver vivo, lembrarei, relembrarei e reviverei cada dia, desses pouco menos de trinta anos de bons serviços prestados.

Essa importante e gratificante epopeia foi escrita por mim, mas foi desenhada e legendada, por cada membro daquela Primeira Turma e que todos estejam bem, com muita saúde e paz de espírito e aos que, não estejam mais dentre nós, num provável chamado do Senhor Supremo de Todos os Exércitos, que descansem em paz ao lado Dele, pois somos responsáveis por pelo menos um tijolo colocado na construção deste país, que carinhosa e respeitosamente, chamamos de Pátria Amada Brasil! E quem sou eu? Apenas o relator desse Processo de Evolução.

ADSUMOS, irmãos e muita PAZ nos CORAÇÕES!

Neste ano, essa Turma comemora seus 40 anos de trajetória, que transformou esses sonhadores em grandes guerreiros, que enfrentaram mares bravios e por inúmeras situações adversas. Agora em terra firme, com o delicioso sabor da vitória, nessa longa batalha, ainda com o imprescindível apoio de seus familiares neste caminhar, vem a alegria no coração diante da agradável sensação de missão cumprida.

PARABÉNS PELO ANIVERSÁRIO DE QUARENTA ANOS DA TURMA 1/1980, DE VOLUNTÁRIOS AO QUADRO SUPLEMENTAR DE TAIFA (QST).

Amém!

Nota dos autores: essa saga nasceu da ideia de quatro remanescentes dessa Turma, cada um com seus méritos pelas conquistas e suas razões pessoais, por terem chegado aonde planejaram ou não, de homenagearmos a cada um, em particular e também à Turma, porque como é normal em muitas circunstâncias da vida, não poderão estar presentes, por desistência da carreira ou que tiveram as mesmas interrompidas, por um chamado do Criador, que é quem decide o nosso início, meio e fim. E até pelos que estão fora do estado ou do país, cuidando de suas vidas e seguindo os seus próprios destinos.

A saber, esses que permaneceram até o final são, por ordem de aprovação naquele primeiro concurso, para poder assim, manter a questão hierárquica lá do início daquele sonho, até porque o coração é quem determina as ações dos bons.

Somos: Celso Castilho, aluno de número 009; Claudio Rodrigues, aluno de número 011; Antônio Assunção, aluno de número 022; e, Jorge Moreira, aluno de número 124.

Justiça seja feita e se começamos juntos, graças a Deus permanecemos juntos e quem roeu o osso, tem que ter direito agora ao filé. É ou não é?!

rodriguescapixaba, Celso Castilho, Antonio Assunção e Jorge Moreira
Enviado por rodriguescapixaba em 25/05/2020
Reeditado em 25/05/2020
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