ETERNOS REFLEXOS
 

                        Federico Garcia Lorca
                                (1898-1936)                 


Fuzis tiranos
em madrugada fria
calam o poeta

 
Em morte de luz
coração de meninos
são mares perdidos

 
Cyro Mascarenhas
 
 
Brilhará no esplendor dos tempos a obra dramática e poética de Federico Garcia Lorca. Nascido em Granada, em 1898, o poeta e dramaturgo andaluz figura entre os mais destacados escritores espanhóis.
A sua sensibilidade artística aflorou desde criança como exímio tocador de piano. Aos 17 anos, escreveria os primeiros versos, revelando o seu estro privilegiado tanto na poesia, como na dramaturgia. Foi também ensaísta, roteirista cinematográfico e desenhista.

Como poeta, o seu livro mais famoso é Romanceiro Gitano (1928) que projeta um painel da sua Andaluzia em imagens reais, sensuais e fantásticas. Na obra como um todo, afloram sentimentos de etnias perseguidas à sua época, a exemplo de ciganos, mouros, negros e judeus. Outro traço marcante é a natureza e a própria morte, em desdobramento doloroso e trágico. Como dramaturgo, Lorca vai se revelar um defensor das mulheres, como sugere  Bodas de Sangue (1933), Yerma (1934) e A casa de Bernarda Alba (1933-36).

O seu firme posicionamento político em favor das liberdades democráticas e a homossexualidade, ainda que não ostensiva, lhe custaram muito caro. Foi implacavelmente perseguido pelos fascistas liderados pelo  General Franco, autoproclamado ditador após vencer a guerra civil espanhola, com o apoio de Hitler.
Para o ditador Franco, o poeta Lorca, com a sua pena, oferecia mais perigo aos falangistas do que um soldado armado de fuzil.  Tanto que o perseguiram -no sem trégua, até capturá-lo e fuzilá-lo numa madrugada fria, em Granada. Seu corpo jamais fora localizado. Supõe-se, tenha sido jogado numa vala comum junto a outros republicanos assassinados.


“Lorca criou um dos mais belos teatros do século XX, introduzindo em suas peças uma linguagem poética singular. Sua insatisfação diante da vida transformava os costumes abordados em sua tragédia. Centro de um grupo de intelectuais que passou para a história como a “Geração de 27”, congregou com os maiores nomes do universo da arte e cultura da Espanha do século passado, entre o solar dos seus amigos estavam: Luís Buñuel, Salvador Dali, Antonio Machado, Manuel Falla e Rafael Alberti.
Federico García Lorca foi um dos primeiros a ser vitimado pela Guerra Civil Espanhola, sendo abatido pelos nacionalistas, grupo liderado pelo general Franco, que uma vez no poder, levaria a Espanha a uma ditadura de quatro décadas. Durante a ditadura franquista, o nome do poeta andaluz foi banido e proibido em todo o país. Numa época de conservadorismo dos costumes católicos na Ibéria, as ideias de Lorca, juntamente com a sua homossexualidade latente, foram decisivas para o seu fuzilamento. Se a conduta de ideias e as assimilações de vida de Lorca bateram no preconceito de uma nação, assassinando o homem, o poeta e o dramaturgo eternizaram o mito. Mesmo calada a sua obra por décadas, ela voltou com os ventos da democracia, formando um grande vendaval que fizeram das palavras dilaceradas à luz da lua, um grito que ecoou por toda a península Ibérica, tornando-se um dos maiores nomes da literatura espanhola” (João Melo, 2014).
(https://jornalggn.com.br/literatura/federico-garcia-lorca-um-homem-andaluz/)


Seguem-se alguns dos versos que imortalizaram o poeta Federico Garcia Lorca:

Verde que te quiero verde
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
Y el caballo em la montaña  
(Romance Sonâmbulo)
 
Foge lua, lua, lua.
Se chegassem os gitanos
Com o teu coração fariam
Anéis brancos e colares    
(Romance da lua, lua)
 
Perdi-me muitas vezes pelo mar,
o ouvido cheio de flores recém-cortadas,
a língua cheia de amor e de agonia.
Muitas vezes perdi-me pelo mar,
como me perco no coração de alguns meninos  
(Gazel da Fuga)
                                    
Ai, voz secreta! Ai, voz do amor obscuro!
Ai, balidos sem lãs! Ai, ai ferida!
Ai, agulha de fel, flor submergida!
Ai, corrente sem mar, urbe sem muro! 
(Soneto do Amor obscuro)
 
Às cinco horas da tarde.
Eram cinco da tarde, em ponto.
O menino trouxe o lençol branco
às cinco horas da tarde.
Um cesto de cal já prevenida
às cinco horas da tarde.  
O mais era morte e apenas morte
às cinco horas da tarde.  
(Pranto por Ignacio Sánchez Mejías)
 
A noite agora não quer vir
para que tu não venhas
nem eu possa ir.
(...)
Nem a noite nem o dia querem vir
para que por ti eu morra
e tu morras por mim.  (Gazel do amor desesperado)
 
Sugestões de busca:
 
Biografia de Federico Garcia Lorca – Canal Encyclopedia
https://www.youtube.com/watch?v=ZAfaklT_uZU
 
Depoimento de Pablo Neruda sobre Lorca:
 https://www.youtube.com/watch?v=rGaZckBYXX0
 
Os fantasmas de Lorca
https://www.youtube.com/watch?v=d2SU-gefzAs