LEVANDO AS GALINHAS PARA PASSEAR

Estou chegando na chácara e o vizinho ou conterrâneo como o chamamos, passou por mim em uma bicicleta com uma caixa na garupa com várias galinhas, todas brancas iguais galinhas de granja.

Ao entrar na chácara encontro seu Valdemar na lida diária, e assim que lhe peço a benção, já lhe pergunto se seu vizinho está vendendo galinhas vivas, e ele me reponde que sim, e passa a contar todo o manuseio com as galinhas até a saída pra venda, sempre com aquele jeito hilário e com requintes de detalhes, ele me diz:

- Filho, quando ele começou a uma semana atrás a vender as galinhas, ele fez uma caixa bem feita com tampa, dobradiças e ferrolho, no primeiro dia elas deram um trabalho danado, quando ia botar uma galinha na caixa, as que já estavam lá dentro queriam sair, mais isso foi só no começo, até mais ou menos no terceiro dia, agora você precisa ver meu filho, seu João encosta a bicicleta no galinheiro, abre a tampa da caixa e vai até a cozinha tomar um café e fumar um tabaco na bruta calma, e quando volta para o galinheiro precisa tirar galinhas de dentro da caixa porque a tampa não fecha.

Depois de um Sorriso irônico seu Valdemar conclui:

- Essas galinhas ficaram tão acostumados a ir passear com ele de bicicleta que só vendo. A única coisa que elas ainda não se acostumaram é quando o sol está muito quente; - Quando ele chega aqui que abre a caixa, elas saem tudo doida pra beber água.

Perguntei a ele se sabia como estavam as vendas, e ele me contou outra história.

- Filho, ele vende até barato suas galinhas, mas o povo prefere comprar galeto congelado, por que a coragem de despenar e tratar a galinha é pouca. Fora isso imagina um lugar onde a maioria das pessoas são bem pobrezinhas, este lugar é o conjunto que fizeram aqui do lado da chácara, onde o conterrâneo vai vender as galinhas, ele sempre vende uma, duas, as vezes fiado pra receber depois, mas a verdade é que quase sempre dá uma impressão que ele está trazendo mais galinhas, do que levou. Muitos dos moradores do conjunto se pegar tudo que eles têm e tocar fogo, não dar nem meia colher de cinza.

Encerrou dizendo:

Mas essa é a vida do pequeno produtor.

Elton Portela
Enviado por Elton Portela em 07/08/2020
Reeditado em 17/07/2023
Código do texto: T7029140
Classificação de conteúdo: seguro