VERDE QUE TE QUERIA VERTE SEMPRE VERDE

Cheguei hoje na chácara de seu Valdemar e ele estava cercando com tela um quadrado de dois passos por três. Sem que perguntasse ele foi logo me falando que pretendia fazer uma pequena horta, e que precisava cercar para as galinhas não ciscar. Antes que terminasse aquele canteiro, perguntei porque não fazia uma horta grande para produzir bastante, alface e cheiro verde. Ele então me disse, sempre com aquele método pedagógico que utiliza à exaustão para explicar algo;

- Veja bem porque não faço uma horta grande aqui na chácara; - Imagine você, primeiro teria que ir atrás de estrumo e adubo; depois para começar teria que fazer as leiras; como o sol é meio quente por aqui, terei que cobrir com aquelas telas fina; depois que o canteiro estiver preparado aí sim, vou plantar as sementes pra fazer as mudas, quando as mudas estiverem nascidas mudarei fazendo as fileiras. Terei que aguar no mínimo uma vez por dia; - Resumindo, vamos dizer que depois de duas a três semanas já podemos colher, depois de colher vem o processo de amarrar os marços. Para ter um lucro mais ou menos, terei que eu mesmo vender no feirão, é bem aí que entra o custo do transporte. Chegando no feirão começo a vender a cinquenta centavos o março, ou cinco marços por dois reais, pra onde olho vejo vendedor de cheiro verde, até ai tudo bem, todo mundo vende, só que conforme a feira vai se acabando, vem os desesperados acabar com tudo, é quando ouço os gritos de;

- Dez marços de cheiro verde por dois reais!!

Seu Valdemar termina a explicação e esclarece, que nunca gostou de plantar algo que com duas semanas tivesse que arrancar e novamente plantar, e disse também que tudo que planta sempre serve de alimento pra ele ou as vezes para os animais da chácara. E começou a falar das plantas nativas e as que já plantou na chácara, ainda que somente uma; Caju, abacate, laranja, lima, coco, macaxeira, limão, abobora, batata, abacaxi, manga, cana-de-açúcar, mamão, jaca, graviola, murici, ata, maracujá, goiaba, araçá, azeitona, pitomba, ingá, tamarindo, café, cupuaçu, banana, acerola, cajá, carambola e cupuaçu.

Ao descrever a variedade de arvores frutíferas da chácara de meu pai, encerro este texto com tristeza, pois, depois que seu Valdemar sofreu um AVC e teve seus movimentos limitados, tudo desandou e com o abandono, muitas dessas fruteiras já não existem mais, o progresso também cercou a chácara de conjuntos habitacionais com moradores de baixa renda, que passaram a ser sócios da produção, muitas vezes antes mesmo da época de colheita.

Só o que restou são imagens que guardo de minhas filhas e minha irmã da segunda família do pai, todas ainda crianças apresentando os frutos e as arvores. Termino com a descrição na apresentação do maracujá no vídeo por uma das meninas; E foi assim que ela disse o nome do fruto e falou para que servia;

- Esse é o maracujá, é a fruta que serve para nervozise (ela quis dizer nervosismo).

Elton Portela
Enviado por Elton Portela em 08/08/2020
Reeditado em 17/07/2023
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