A jovem da palestra

Era mais um dia comum e Lucas estava indo estudar na biblioteca central de sua cidade. Saiu de sua casa, passou por algumas outras bonitas, chegou na parada de ônibus, subiu no mesmo e seguiu seu destino.

"Caracas, o dia hoje está quente!" pensou. Ele olhava para fora na esperança de chegar o mais rápido possível em seu local desejado. Esperança essa que sempre falhava, pois seu desejo na rapidez não influenciava nem um pouco o modo que o motorista conduzia o ônibus.

Chegando próximo à biblioteca, ele puxa a corda, dando sinal que já vai descer.

- Droga, o motorista não vai parar aqui de novo. - Murmurou.

E lá estava ele: Mais uma vez havia descido duas paradas após a sua e não podia recorrer à sua vontade mental em se teletransportar para dentro da biblioteca.

Descendo do veículo, seu óculos fica embaçado por conta do contato do frio do interior ônibus com o calor fora dele.

- Lá vai eu, novamente, ter que limpar esses meus "olhos" adicionais. - Murmurou chateado.

Como estava com pressa, fixou seus olhos um pouco para baixo, tirou um pano do seu bolso e começou a esfregá-lo nas lentes embaçadas. Hora ou outra erguia a cabeça e olhava para ter certeza de que não iria esbarrar em ninguém por acidente.

- É sempre assim - continuou murmurado -: Eu peço para descer ali na parada mais à frente e ele não para. Ah, não vejo a hora de ter meu carro. Não vejo de ter me... Ai!

Distraído por suas reclamações, ele esbarra em uma garota, que, provavelmente, deveria ter sua idade.

- Presta atenção quando estiver andando por aí, rapaz! - Reclama ela.

- Desculpa, minha jovem. Estava limpando meu óculos e esqueci de olhar novamente se vinha alguém à frente. Acredito que você deveria ter feito o mesmo.

- Tudo bem! Só me ajuda a pegar minhas coisas do chão, por favor. Estou um pouco atrasada. Minha palestra começa às 15:00 em ponto.

- Às 15:00? Mas, neste exato momento, são 14:17.

- Sim, eu sei - explica ela -, mas gosto de chegar super cedo para aproveitar cada momento.

- Ok, "Senhora Nunca se Atrasa". - sussurra Lucas abaixando-se para pegar as coisas da jovem que estavam no chão.

- O que você disse?

- Nada! - ele continua com um sorriso irônico.

O rapaz recolhe tudo e entrega à moça. Àquela altura, ele pôde vê-la com mais calma e percebeu tamanha beleza. Era uma jovem com a pele branca, porém bronzeada, cabelos cacheados, rosto fino e que tinha um olhar penetrante.

- Aí estão! - diz Lucas entregando os cadernos, papéis e tudo mais que estavam no chão.

- Agradeço! - ela sorri.

- Com todo respeito, você é uma garota muito bonita.

- Muito obrigada! Fico tímida quando me elogiam. Então, perdoa por meu rosto estar avermelhado agora.

- Não se preocupe. - conclui ele.

- Você também é mui... Olha só a hora! - espanta-se a jovem olhando para seu relógio de pulso -.Tenho que ir! Acredito que já estão fazendo os preparativos finais para a palestra começar.

Em segundos, aqueles que estavam de frente um para o outro já não se encontravam mais nessa posição. Ela, por conta dos vários materiais em suas mãos, atravessa a avenida um pouco desnorteada, tentando organizá-los para que nada ficasse amassado.

- Ei - ele grita -, para não dizer que você falou com um completo desconhecido, me chamo Lucas.

- Lucas? Gostei do nome! - ela grita de volta enquanto anda apressada e olhando na direção dele -. E pra não dizer que você falou com uma "Senhora Nunca se Atrasa", me chamo Liz.

Ele percebe que ela havia entendido o que, há minutos atrás, havia falado.

Lucas acena para ela com um sorriso no rosto, ela retribui com um outro e some na multidão.

O jovem rapaz vira-se para direção da biblioteca e pensa no que acontecera ali. É, uma bela moça havia topado em seu caminho e roubado parte de seu coração. Coração esse que já há muito tempo não sabia o que era paixão e que agora, se via sequestrado por uma quase que estranha da rua.

Será que ele a veria de novo? Quem sabe...

Pequena história dedicada à Liz, a mocinha que tocou meu coração.