HOMENAGEM

HOMENAGEM

Alberto nasceu numa cidade do interior de Minas Gerais. Filho único de um casal de lavradores, muito cedo tornou-se órfão. Coube a avó materna o complemento de sua criação, até que essa também faleceu.

Só no mundo, sem família, arrumou trabalho muito jovem como meio de subsistência. Depois de experimentar vários serviços, teve oportunidade em uma grande empresa de tecelagem e confecção que fornecia para todo o país, através de seus vendedores viajantes. Este fato o encantou. Nada o prendia no mundo e a possibilidade de viajar o fascinara.

Durante muitos anos não teve pouso fixo e a liberdade de ir e vir fez dele um homem desapegado de quase tudo. Desempenhou com muito empenho o seu serviço e era considerado um ótimo profissional no ramo de vendas. Ao mesmo tempo que ansiava por conhecer diferentes cidades, não se apegava a nenhuma delas.

A seu pedido, era constantemente deslocado de área, viajando por outras paragens, procurando sempre um lugar novo, uma outra experiência. Não se prendia a clientes antigos, por melhor e mais lucrativos que fossem. A vontade de enfrentar novos desafios o motivava e o impulsionava. Foi assim que chegou àquela cidadezinha do sul mineiro.

Quando chegou à rodoviária e se dirigiu ao hotel, sentiu uma sensação diferente que não soube definir. Parecia ter chegado a um lugar que ele já conhecia, embora nunca tivesse estado lá. Uma sensação de bem-estar e de aconchego, que ainda não tinha desfrutado, invadiu o seu corpo e ele se sentiu agradavelmente disposto.

Acomodou-se, tomou um banho e desceu para jantar. Viajara durante horas e percebeu que estava esfomeado. Depois de uma farta refeição, sentou-se na varanda e pegou um jornal para saber das novidades. Depois, por hábito, começou a observar o funcionamento do hotel. Notou que os empregados não portavam uniforme e, embora solícitos, não tinham treinamento adequado. Ao dirigir-se à portaria, para pegar a chave do quarto, lá encontrou uma jovem e bela mulher que o recebeu com muita simpatia. Indagado se estava tudo bem, ele respondeu com algumas ressalvas.

Tratava-se de Marisa, dona do hotel, que com ele entabulou uma longa conversa. Solicitou dele sua opinião sobre o que achava da hospedagem. Ele não se furtou e opinou sobre a localização, sobre os chuveiros, sobre os quartos, sobre o mobiliário. Estranhamente, se viu falando a respeito de tudo, ele que era desapegado das coisas materiais e estava sempre de passagem.

Despertou pela manhã, ainda sem entender o que havia acontecido. Trabalhou durante todo o dia e só retornou à noite. Como se o estivesse esperando, surgiu Marisa. De imediato, Alberto se desculpou pela noite anterior. Ela o interrompeu, dizendo que havia gostado muito das suas ideias e que tencionava pô-las em prática. Explicou que havia estudado na capital, depois herdado o hotel e não havia se preparado para gerenciá-lo. Estava receosa com a aproximação da alta temporada. São Lourenço era uma localidade turística, famosa pelas suas fontes hidrominerais e com um lindo e bem cuidado parque.

Era o motivo de que ele precisava. A cidade já o acolhera, descobriu que estava cansado do trabalho e alguém necessitava dos seus conhecimentos. Decidiu, como homem livre, que não deixaria o lugar. Sim, ajudaria Marisa a tocar o negócio.

Em pouco tempo, fizeram inúmeros melhoramentos. Especialmente, com referência aos chuveiros elétricos, insuficientes numa cidade de clima frio, que foram trocados por um moderno sistema de aquecimento. Os empregados receberam treinamento específico e ganharam uniformes diferentes, para que fossem mais bem identificados pelos hóspedes. Em breve, o H.Primus tornou-se uma realidade na aprazível localidade. Alberto e Marisa perceberam que poderiam aumentar a ocupação do hotel em outras épocas do ano, não só no inverno. Seria preciso fazer um grande investimento na construção de piscinas e saunas, novidade na época. Assim foi feito, com grande esforço.

Os então bom amigos se admiravam. Marisa pela coragem em ousar. Alberto pelo tirocínio na condução dos negócios. Era um casamento perfeito. Só faltava o amor; e ele veio, timidamente a princípio, mas maduro e duradouro como deve ser. Não houve paixão avassaladora, mas um sentimento de admiração e de ternura, que se tornou em amor e confiança, frutificado na forma de dois lindos mineirinhos, razões de suas vidas.

Aquela linda cidade foi a responsável pela transformação e pela aproximação de um casal e os fez amá-la, pela atração irresistível que ela exerce em todos que a conhecem.

-Uma homenagem à São Lourenço e um tributo a meu pai que a venerava.

(abc das LETRAS)

ABC DAS LETRAS
Enviado por ABC DAS LETRAS em 10/01/2021
Reeditado em 11/01/2021
Código do texto: T7156748
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