AINDA UMA VEZ ADEUS
AMOR IMPOSSÍVEL
TEXTO DEDICADO A GONÇALVES DIAS
Ele, filho de um comerciante português e de uma mestiça, nasceu no Maranhão, em 1823 durante o período da escravatura. Pôde realizar seus estudos em Portugal, diplomando-se advogado na Faculdade de Coimbra. Lá, conhece diversos escritores portugueses; e, saudoso, escreve Canção do Exílio, grande poema de amor e de paixão pelo Brasil.
Ao retornar, é nomeado professor do Colégio Pedro II, trabalha em alguns jornais e revistas da época. No Maranhão, conhece Ana Amélia, o maior amor de sua vida. Pensam em se casar, porém, embora bem considerado pela família da sua amada, vê seus sonhos de desposá-la serem desfeitos, numa clara demonstração de preconceito racial. Ferido em seu amor-próprio, pensa em lutar e resistir, mas seu sentimento pela eleita era tão grande, que imaginou se deveria fazê-la passar pelos sofrimentos, que o rompimento com seus pais lhe causaria.
Então, abriu mão de seu amor e retornou a Portugal. Casou-se e não foi feliz. Trazia ainda no coração a tristeza do relacionamento findo, por intromissão de terceiros. Nunca a esqueceu.
Ana Amélia, por sua vez, resolveu mostrar todo o ressentimento com a família, casando-se com um mestiço e, como era de se esperar, não foi feliz. Tinha pelo homem que a abandonara um misto de sentimentos, que variavam entre raiva, indiferença e até um pouco de desprezo. Não compreendia como o homem, que ela amava, tinha desistido dela sem lutar.
O casual encontro deles na Europa foi frustrante. Ele, ainda apaixonado por ela, arrependido da atitude que tomara, esperava talvez consideração e quem sabe um tanto de afeição. Ana Amélia, entretanto, com o coração sangrando pela covardia dele, não permite qualquer possibilidade de reatamento ou de simples perdão. Só lhe resta então se justificar, mas em vão. Era tarde, não havia argumentos que a convencesse. Despedem-se friamente.
Um imenso vazio invade o coração do poeta, arrependido e triste por descobri-la infeliz. Os olhos indiferentes e sem brilho de agora, não deixam dúvidas do mal que lhe causara.
Só poderia mitigar o seu sofrimento, homenageando a sua antiga amada com um lindo poema, onde confessa suas intenções, sua covardia, mas também o seu amor infindo. Assim nasceu “Ainda uma vez adeus”.
“Lerás porém algum dia
Meus versos d’alma arrancados,
D’amargo pranto banhados,
Com sangue escritos; e
Então, confio que te comovas,
Que a minha dor te apiade,
Que chores, não de amor nem de saudade,
Mas de compaixão.”