A PRIMEIRA MOTO A GENTE NUNCA ESQUECE
Não tenho lembranças qual a origem daquela moto Kawasaki 100 cilindradas que meu pai tinha lá pelos fins dos anos 70, o que sei é que era uma moto de dois tempos e parecia a miniatura da locomotiva da maria fumaça, mas era muito econômica.
Na maioria das vezes que seu Valdemar saia naquela mota, um de seus filhos lhe acompanhava ocupando a garupa. Muitas vezes quando estive na garupa, ouvia ele dizer em voz alta, a velha e sempre mesma frase; quando desligava a moto e a colocava em ponto morto ou neutro e deixava descer a ladeira na banguela:
- Sem barulho, sem fumaça e sem poluição!
Do lado de nossa casa havia uma festa que ia até de manhã, no local funcionava também um posto de gasolina e uma borracharia. Certo dia antes de amanhecer, o cachorro começou a latir e seu Valdemar foi dar uma olhada para ver o que estava acontecendo, quando abriu a porta da sala se deparou com um senhor saindo no portão empurrando sua moto, ele foi até o bêbado e lhe perguntou quem havia autorizado a pegar a moto, com a voz meio embargada o ebrio respondeu que a moto era sua e que iria leva-la. Nessa altura eu e meus irmãos já estávamos no portão. Foi quando ouvimos o pai falar bem sério e com um tom ameaçador:
- Eu vou já te mostrar o que é teu, espera aí!
E se retirando, entrou em casa como se fosse buscar algo.
Não sei qual de nós, mas sei que alguém falou meio que desesperado para o senhor:
- Moço pelo amor de Deus, deixe essa moto aí e vá se embora, que com certeza ele foi pegar o revolver e vai atirar no senhor!
O homem quando ouviu o que dissemos deixou a moto e ganhou o mundo em desabalada carreira.
Não percebemos que o pai estava de longe assistindo aquela situação e vendo nossa reação.
Ele veio então até nós e disse:
Esperei que vocês três fossem dar um cassete neste bêbado, e tomar a moto.
Alguém então lhe falou:
Pai, não foi preciso, o homem quando viu a gente quase dá um ataque de medo.
Mas como sempre tem o irmão que não gosta de mentiras, disse:
Meu pai o bêbado não estava com medo da gente, estava com medo do seu revolver.
Seu Valdemar começou a rir.
Até hoje não me lembro de meu pai ter possuído uma arma, ele sempre dizia que:
“A violência gera a violência. E um homem armado fica destemido."