De um filho para uma mãe

Hoje meu lugar de fala é como filho.

Mães, às vezes somos ingratos, carentes, chorões. Não queremos conversar ou falar sobre o que sentimos. Vamos dizer na terapia: "vontade de matar minha mãe". E sim, simbolicamente, dentro de nós, mataremos nossa mãe. Acho que matar é uma palavra muito forte. O verbo correto é ressignificar. Imagina agora, na pandemia, que muitos de nós voltamos a conviver todos os dias!

Entender que você é humana, falha, erra e que faz o seu melhor. Entender que você carrega no peito e na costa as dores e delícias da sua jornada. acertando ou, na nossa visão, errando, mas que você dá o que tem e faz o melhor que pode.

Vamos brigar, discordar, fazer escolhas que você sabe que quebraremos a cara e que vai doer quando deitarmos no seu colo ou te abraçar chorando e dizer: "mãe, doeu"; "mãe, me ferrei"; "mãe, deu tudo errado." E você, sendo forte ou chorando junto, nos abraçará com aquela frase, dita ou não dita - "eu avisei" - e dirá (ou não dirá), "vai ficar tudo bem."

Tudo que você mais quer é que sejamos felizes. Nós também queremos que você seja feliz. Acredito que não tem preço quando contamos que conseguimos o emprego dos sonhos, que passamos no vestibular, que tivemos nossa primeira vez ou que estamos apaixonados - ok, nem sempre ou tudo vamos contar, mas não por não confiarmos, mas porque queremos descobrir quem somos, viver nossa experiências escondidas - afinal, proibido é mais gostoso.

Ah e sim, não saberemos mentir. Você tem o dom de olhar na nossa cara e decifrar nosso olhar, nosso riso. De justamente naquele dia ficar acordada até mais tarde (mães dormem?) ou por acaso arrumar nossa gaveta e achar uma pista que nós, nos achando espertos, achamos que você nunca ia descobrir. "Não adianta mentir que eu já sei tudo". Ou "espera seu pai chegar...".

Não corresponderemos a todas suas expectativas. Uma hora, abriremos nossas asas e voaremos mundo afora. Choraremos nos reencontros e despedidas. Ok, às vezes vamos dizer um "tá bom, mãe, também te amo, chega, solta, tá todo mundo olhando, olha o mico". Mas ao embarcarmos no trem da vida, em silêncio, acenaremos, com medo do que vem pela frente, com frio na barriga e choraremos, escondidos, de saudade. Aliás, você ligará 312 vezes, deixará um milhão de recados: "esqueceu que tem mãe?" "Onde você está que não me liga?" "Não quer mais falar com a sua mãe?" "Mãe, tava ocupado, a bateria acabou". "E porque não carrega esta mer...".

Podemos ser únicos, de coração, caçulas, do meio ou mais velhos. Deixaremos você louca, quebraremos o bibelô que você ganhou da tia-avó no casamento, você dirá infinitas vezes: Desce daí!" "Vai se machucar", "Se comporta!"; "Foi essa educação que eu te dei?"; "Não corre!"; "Quantas vezes já não te falei pra não mexer aí!?"; "Vai ficar de castigo para o resto da sua vida". Mas mesmo brava ou zangada, trará o remédio, cuidará das feridas, mesmo com aquele: "tá vendo, quem mandou não obedecer a mamãe".

Mães do Brasil e do mundo, presentes ou que já se foram, mesmo com toda nossa rebeldia, que a gente fique sem se falar, nas dores, brigas, rompimentos, derrotas e rejeições, dentro de nós, guardado lá no fundo, o nosso amor existe e resiste. Obrigado, mãe, por escolher essa missão de dar a luz e me dar a vida. Eu sou o seu pacotinho imperfeitamente perfeito. Ah, mais uma coisa, teremos coisas parecidas com nosso pai, mas melhor deixar para outro texto.

Feliz Dia das Mães!

De um filho.

Gu Oliveira
Enviado por Gu Oliveira em 09/05/2021
Código do texto: T7251636
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