Manoel dos Indios

Francisco de Paula Melo Aguiar

O mestre Manoel dos Indios é um homem simples, honrado e de poucas letras. É a cultura popular de carne e osso. Fundou com recursos próprios uma associação carnavalesca denominada: Tribo Indigena Tupi Guanabara com os moradores do Bairro Popular, interessados em brincar o carnaval tradição que mantém a sua tribo indígena presente nos carnavais de Santa Rita e de João Pessoa, sendo uma das onze agremiações de tribos indígenas que desfilam no carnaval tradição da Capital da Paraíba e a única de Santa Rita citada. (CLEMENTE, 2013, p.15).

É sem sombra de dúvidas a cultura viva afro-brasileira em movimento e ação santa-ritense na especificidade tribo indígena, um verdadeiro presente do Bairro Popular para o mundo, uma vez que tirava os aplausos, o reconhecimento, a estima, a dignidade e o respeito da população envolvida no dizer de Honnet (2003).

Hoje os tambores da tribo de Manoel dos Indios silenciam para homenageá-lo de fato e de direito. É assim mesmo, na vida nada se perde, tudo se transforma, e com o ilustre carnavalesco santa-ritense da gema Manoel dos Indios não é diferente diante de sua partida para o plano celeste.

Tudo passa muito rápido assim como passou a sua existência real entre a população santa-ritense dos carnavais vitoriosos dos 40 (quarenta) e ou mais anos com a presença festiva da Tribo de Manoel dos Índios desfilando nas ruas do Bairro Popular e do centro da cidade para a “elite”. Tivesse ou não carnaval oficial em Santa Rita a sua tribo tinha presença garantida. Tanto é assim que: “[...] a tribo indígena de Manoel dos Índios, que com muita luta vem mantendo até nossos dias o carnaval tradição de nossa terra, geralmente sem apoio do poder público. (AGUIAR, 2016, 99).

Assim sendo, não há de fato e de direito a justiça social sem o reconhecimento público e ou privado, isso visível diante da desigualdade da distribuição dos recursos investidos em cada carnaval em que sua agremiação participou em Santa Rita e em outras cidades a convite, ainda que por analogia (FRASER, 2007).

Ontem, 4 de maio de 2022, completaram 34 (trinta e quatro) dias que ele ficou viúvo da mulher, companheira e heroína de seus sonhos, de seu grande amor por aproximadamente 55 (cinquenta e cinco) anos de casamento e convivência com quem construiu sua família no dizer de sua ilustre filha a educadora santa-ritense Cida Nascimento. Sua família, o seu maior patrimônio.

Na vida, nem tudo é alegria. Um dia é de festa e o outro é de dor. É assim desde que surgiu a humanidade na face da Terra pelo poder do Criador de tudo e de todos: Deus.

E hoje, 5 de maio de 2022, noticiamos ao público em geral o falecimento de Manoel Adelino da Silva, o popular Manoel dos Índios. O féretro está sendo velado em sua residência, à Rua São José, nº 985, Bairro Popular - Santa Rita – Paraíba, de onde o cortejo fúnebre sairá às 16:00h para sua última morada no Cemitério Santana, nesta cidade. A família, seus amigos e os componentes de sua Tribo Indígena enlutada agradece antecipadamente o comparecimento de parentes e amigos a este ato de fé e piedade cristã.

É a vida, todo ser vivo tem sua páscoa.

Não vale apenas fazer uma tempestade em um copo d'água, principalmente quando se trata de um cidadão humilde e honrado diante de sua mudança de endereço, cidade universal e sagrada, último endereço da humanidade.

Isso porque não se tem como diminuir a pressa da vida no seu dia a dia e com Manoel dos Índios não poderia ser diferente.

Saudades!

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REFERÊNCIAS

AGUIAR, Francisco de Paula Melo. Santa Rita,Sua História, Sua Gente. 2ª edição. São Paulo. Clube de Autores Publicações S/A, 2016. 638p. Disponível in.: <https://rl.art.br/arquivos/6404665.pdf >. Acesso em 03/04/2022. .

CLEMENTE, Marta Sanchis. Aprendendo música com os Tupynambás: transmissão musical em uma Tribo Indígena Carnavalesca de Mandacaru, João Pessoa. [Dissertação de Mestrado em Música – área de concentração em etnomusicologia – Orientador: Carlos Sandroni - Programa de Pós-

Graduação em Música – Centro de Comunicação, Turismos e Artes da Universidade Federal da Paraíba]. João Pessoa: UFPB, 2013. Disponível in.: <https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/tede/6617/1/arquivototal.pdf > . Acesso em 03/04/2021.

FRASER, Nancy. Reconhecimento sem ética? In.: FRASER, Nancy; SOUZA, Jessé; MATTOS, Patricia (Orgas). Teoria Crítica no Século XXI. São Paulo: Annablume, 2007.

HONNET, Axel. Luta por reconhecimento. A gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo: Editora 34, 2003.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 05/05/2022
Reeditado em 08/05/2022
Código do texto: T7509545
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