OCALINA

Dos campos dos Goytacazes,

Das olarias imensas,

Das imensas pastagens...

Do rio levando sonhos,

Dos sonhos trazendo risos,

Das pessoas... Das paisagens...

Raiz da maternidade.

Memórias reveladas com o tempo,

Gravadas em sentimentos,

Como mensagens cifradas

A traduzirem-se misteriosamente

Quando fecho meus olhos,

Em maravilhosas imagens.

Na alma, um nostálgico abraço.

Nas palavras, saudade!

Saudade da velha venda,

Da infância que não volta.

Saudade das brincadeiras,

Das brigas, das lorotas...

Até saudade dos bichos,

Das galinhas...

Dos porcos...

De um tempo em que todo tempo

Era só felicidade.

As primeiras letrinhas,

As primeiras amizades...

O primeiro emprego...

Tudo, tudo, era novidade!

Ah! Que saudade imensa me invade

Ao lembrar dos meus paqueras,

Ao lembrar do hospital...

Do tempo da tecelagem!

Das quermesses, dos foguetórios...

Do vai e vem na Beira-rio!

Dos bailes...!

Coisas daquela idade...

E até do que não vivi,

Do que não tive e nem mereci,

O privilégio em saber:

Que quando as águas do mar se revoltam

Os ventos sopram por mim...

Me acalmam,

Me salvam,

Me guiam.

E me dão tranqüilidade!

Ventos que me trouxeram o amor.

O amor que me deu filhos.

Filhos que me deram netos.

Netos que tiveram filhos...

E agora, os filhos dos netos dos meus filhos,

Escreverão o meu amor,

Por toda eternidade!

Em nomes, sobrenomes e, sobretudo,

Em irmandade.

Do tipo que reúne gente amiga,

Famílias e amigos da família

Pra um churrasco.

Que divide dor e alegrias.

Que puxa a orelha, mas que também acaricia.

Que fala mal, fala bem, que não fala...

Apenas ouve.

Ouve e compreende.

Em cumplicidade!

Assim, em cada festa,

Cada gesto,

Cada neto dos meus bisnetos,

Estarei eu.

Eu que fui menina. Que fui mulher...

Que fui mãe.

Que em cada parto, numa prece,

Fui milagre.

Gerei vida.

Gerei sonhos.

Gerei dignidade!

E hoje,

As lembranças que me envolvem de saudade,

São dos passos no caminho percorrido até aqui.

Muitos deles aos seus lados,

De braços dados...

Outros, com vocês nos braços.

E alguns, já meio cansados, amparados,

Na direção dos apartados...

Que são flores do meu jardim nostálgico.

Que são a plena “serenidade”.

Serenidade que não é. Se faz.

Compreensão que não se tem. Que nos amansa.

Tempo que não volta atrás. Só avança.

E que deixa saudade!

Quanta saudade esse tempo traz...!

Remexe, estremece e faz a gente balançar...

Mas a gente não cai.

A gente olha pros filhos,

Pros netos,

Pros bisnetos,

Pros trinetos,

Pros amigos todos reunidos,

E fala com o orgulho de sempre:

EU SOU FILHA DO MEU PAI!

Carlos Borges
Enviado por Carlos Borges em 06/12/2007
Código do texto: T767241
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