Um pequeno tributo a Nerimar

Pelos áditos dos mistérios da vida, sucumbe o homem

Desce à sepultura, revestida pela frieza do mármore escuro, o corpo morbo e morto

De quem um dia, no trilhar da loucura, foi absorto e torto

Artista nato e incerto, que no palco das ruas, engendrou memórias que não somem

Sua performance insana e seu instrumento invisível e imaginário tocava para ouvidos que não compreendiam seus sons, agora com arpejos de saudade, que o coração martelam e consomem

Eis a criatura que também foi criador, que com o dom da pintura não fingiu dor e tingiu paisagens, hoje em ruínas, que foi a própria senda

Mas a morte, ingrata e justa, que a todos alcança, finalmente te abraçou e com o bafejo da tristeza a sua vela apagou, jogou-te à escuridão que os olhos venda

No ritual das exéquias, a liturgia indiferente anuncia a salvação do ser cristão, na falácia de que todo mundo é igual e irmão

Vale mais a mentira sincera doutro "maluco beleza" que encerra sua passagem na terra cabisbaixo, calejado pelas pedradas que a realidade lhe deu e recheado por doçuras amargas, com dores e amores que não lhe foram em vão

Ficam as verdades e as sementes dum ser desimportante que foi luz, que trouxe alegria para nossa gente e que foi vencido pelo tempo, que morreu ontem como homem-corpo, mas que viverá para sempre como espírito-lenda.