Grandeza sem fim.

Se eu tivesse apenas poucos segundos para classificar a minha grande amiga Maria Luíza, eu diria: grandeza sem fim.

Eu jamais vira tamanha elegância moral!Eu jamais vi a minha comadre, como eu gostava de chamá-la e eu recebia a reciprocidade nessa fala, fazendo algum julgamento, alguma crítica, desdenhando de alguém ou de alguma situação. A professora mais correta nas atitudes e dedicada aos alunos e à instituição e parecia nunca se cansar. A suas integridade era tamanha que eu também jamais soube de ela se indispor com algum aluno nas suas tradicionais falta de limites. Falava baixo mas com muita precisão e certeza.

Ela olhava no olho com calma e suavidade, mas com determinação. Sabia ouvir os desabafos de pessoas em estado de dor. E nunca julgava. Com seriedade, não dizia, mas pensava: “a vida é assim, as pessoas são assim. Mantenha-se firme nas suas decisões e conforme os seus sentimentos e valores”.

Eu apreciava demais o conteúdo das suas aulas e das suas apostilas de Inglês, matéria que lecionou com maestria por mais de meio século. Ensinava a gramática com base em textos carregados de valores morais, daqueles dos quais somos famintos e muito necessitados e que perdemos em meio à selvageria do capitalismo e da competição.

Com simplicidade chegava a explicar questões profundas e filosóficas. Eu me lembro quando uma aluna disse a ela que Deus não existia porque ela não O via. Com toda a paciência, Maria Luiza lhe perguntou: “você precisa de ar? Você vê o ar? Consegue ficar sem ele por quanto tempo?” A aluna nunca mais tocou no assunto. Levou a reflexão para casa, com certeza.

E lia muito, sobretudo autores clássicos, os russos, e sabia partilhar os conhecimentos dali extraídos e não economizava nunca na riqueza de detalhes e na valorização do diferente.

E como gostava de viajar!!! Sei que antes de fazer seu primeiro tour foi arrimo de uma família grande sem jamais reclamar dos seus.

E viajou muito!!! E trazia suas experiências de viagem, partilhava as novas descobertas culturais com seus alunos, com algumas pessoas próximas, comigo sempre. Apenas pela alegria de dividir conhecimentos e valorizando todas as expressões de cultura.

Quando eu me sentia ferida por alguma desconsideração por parte de algum aluno, ela, calmamente, me dizia: “cada um dá o que tem. Se a pessoa não tem educação, ela não pode dar educação. Então, não se aborreça. Ela não tem e então não pode dar”. Ponto.

A Maria Luíza me ouviu em momentos de extrema dificuldade, de desespero emocional por questões particulares, de crise no ambiente de trabalho. Ouviu com tranquilidade e não julgou as pessoas que haviam me arruinado a alma. Também não me julgou. Ouviu apenas com atenção e respeito.

Uma das pessoas mais sinceras, mais serenas, honestas, cultas e corretas que conheci. Em muitos anos ocupou um lugar imenso na minha vida. E perguntava do meu filho, dos meus queridos, sempre com atenção e interesse.

Uma Mestra de todas as horas.

Amargo a frustração de não ter sido sua aluna, mas, sem dúvida, foi a mais extraordinária pessoa que conheci. Na sua decência, no amor à vida, na fé inabalável, no respeito a todas as formas de diversidade.

Siga em paz, minha querida comadre. Brilhe no céu.

Sei que foi recebida com aplausos efusivos porque você foi grande demais para estar conosco. Teve paciência com a nossa ignorância, compaixão com as nossas fraquezas, tolerância com a nossa impetuosidade. Você teve caridade com a nossa insignificância. Você foi uma parte do sol que não se cansou de brilhar nas nossas vidas.

Guardo no coração e na alma uma vontade imensa de ser como você. Mas não vou sustentar tamanha petulância! Será impossível eu conseguir essa grandeza, esse seu brilhantismo tão intrínseco.

Que os anjos lhe acolham, lhe acariciem, conversem muito com você. Que reencontre aquele seu grande amor que um dia você me disse. Que seja muito, muito feliz com ele. Que o colo de Nossa Senhora lhe embale com aquela ternura quente de mãe disponível para o amor demais.

Siga em paz, minha amiga querida. Um dia a gente vai se encontrar e continuar aquelas conversas prazerosas e interessantes. Com mais tempo. Eu prometo lhe dizer o quanto aprendi com você. A gente vai voltar a se abraçar e vou poder lhe contar que aprendi mais com você do que em todos os cursos e vivências que já tive. Orgulhosamente, olhando nos seus olhos, vou conseguir lhe agradecer sincera e profundamente pelos anos de convivência.

E vou sempre lhe dar “bom dia, comadre”, “boa noite, comadre”, como fazíamos no whats a cada dia.

Fique com Deus e que a sua estrada seja lindíssima, ensolarada, com barulhinho suave das ondas do mar, com bem-te-vis a cantar para você ao som dos grandes músicos que você tanto sabia apreciar!

Beijos, minha comadre. Até mais.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 31/07/2023
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