DIA DE SÃO JOÃO

Hoje, 24 de Junho é comemorado o dia de São João Batista, primo de Jesus Cristo filho de Isabel, irmã de Maria mãe de Jesus, e foi ele quem batizou Jesus nas águas e foi fiel a Jesus e ao que Ele representaria na vida das pessoas, tanto que morreu por essa causa, foi torturado e decapitado por persistir na fé, acreditar que Jesus era o Salvador para todos nós, recebendo então o reconhecimento da igreja o título de Santo, assim como Isabel, sua mãe e Maria mãe de Jesus. A história é longa para chegar às festas comemorativas, mas vou deixar para pesquisarem como foi, pois agora quero relembrar essa data quando pequeno. A expectativa era grande para que chegasse o dia de comemorar São João pelas brincadeiras, pelas comilanças, pela farra, por tanta coisa que envolvia, não só no dia, mas pelos dias, pela semana que antecedia, devido aos preparos, sempre orientados por alguns adultos que nos diziam o que fazer - digo nos, porque estou me referindo a turma toda de amigos vizinhos que se dispunham, com toda certeza a ir em busca de lenha, nos matos, que eram muitos, nas redondezas e corríamos para cumprir com a tarefa pela expectativa do que vinha logo mais ao anoitecer - e assim era aquele corre corre, com envolvimento total em ajudar. Lembro perfeitamente, como se estivesse vendo no momento as cenas dos dias preparando tudo, e principalmente armando a fogueira, nós ajudando claro, porque os adultos que o faziam, com lenhas que havíamos encontrado, cortado, picotado em tamanhos diferentes para a montagem correta da maravilhosa e encantada fogueira que nos iluminaria, nos esquentaria e nos faria vibrar de emoção, de êxtase quando chegasse o momento de acende-la e vê-la sair fagulhas, labaredas lá no alto e nossos corações pulsando de alegria, nossos corpos temerosos da intensidade daquele fogo mas pasmos com tanto calor e extasiados pela magia do que aquilo nos causava. Eramos crianças felizes, tinhamos e fazíamos coisas que hoje não se faz mais, hoje as fogueiras são de mentira, hoje o fogo não esquenta porque é falso, pois pode machucar, pode isso e aquilo. Naquela época não tinha disso e nada acontecia, até pular a fogueira com a possibilidade de queimar os fundilhos das calças e torrar os pés que já estavam descalços para pularem, pois rezava a lenda, lá sei eu quem contou e disse ser com pés descalços a pular o tal braseiro e assim fazíamos. Nunca me arrisquei a atravessar o braseiro caminhando, depois de não ter mais labareda, restar apenas o braseiro incandescente, terrivelmente quente. Pensava nas bolhas posteriores à passagem mas ficávamos no empurra empurra um dizendo para o outro se arriscar, mas ninguém era corajoso o suficiente para suportar a dor, a ter os pés queimados e não poder brincar, correr, jogar bola e tudo o mais que fazíamos, ah, estudar também, mas isso, naquele momento não era pensado porque não era importante, não vou ser pois nunca fui hipócrita em dizer que pensavam em estudo naquele momento. Os adultos nos cuidando, ralhando conosco para nos afastarmos da ardência do fogo que chegavam a vir labaredas a cada estouro da lenha, que algumas ainda estavam molhadas, porque nesse mês era e é de chuvas intensas, por isso colhiamos dias antes para guardarmos e estarem suficientemente secas ou aptas a serem queimadas e nos proporcionar o ponto máximo da festa, da comemoração - do quê mesmo? Se perguntasse para cada um daqueles guris e algumas gurias, nem pra mim, não saberiam dizer, o que estavamos comemorando, pra nós só importava a farra da fogueira, comer as pipocas doces e salgadas, as rapaduras de amendoim e de côco, os merengues, o quentão, que não podíamos tomar por sermos ainda crianças, mas sempre tinha uma roubadinha disfarçada de um copo e tomávamos escondidos, Aquilo era o máximo da ousadia, mas o que nos entregava era o vermelhidão das bochechas, o calorão subia e queríamos tirar a roupa, pois sempre era frio, mas o calor tomava conta e o frio ia embora dando lugar a tantas outras sensações sem frio, sem tristeza. Eram tantas comidas e quitutes que cada um dos vizinhos traziam para nos proporcionar aqueles lindos e inocentes momentos de total comunhão, de total felicidade, mas quem mais contribuía com tudo isso era um vizinho da minha casa, Sr. Newton Mattos, que ganhava melhor, por exercer melhor posição na empresa que trabalhava - ele é inesquecível por ter nos proporcionado, para todos da rua, tudo aquilo que nossas poucas condições financeiras não permitiram ter. Quando a fogueira estava já em brasas as batatas doces eram tiradas das brasas, cortadas e distribuídas para todos - que delicia - e assim ficávamos a noite toda até nem sei que horas, só sei que em algum momento, mesmo que a fogueira fosse reabastecida com lenhas reservadas prevendo o arrefecimento do fogo e para o frio não tomar conta e tornar gélido o evento tão esperado tão maravilhoso, mas nossa pouca idade e tanta folia já nos fazia ficarmos mais quietos, e nos permitiamos ficar sentados escutando as estórias dos adultos que conversavam, tomando vinho, chimarrão, e assim a noite ia varando e nós já chucrinhos loucos para entrarmos para casa, mas a vontade de sermos adultos e participarmos de tudo avidamente não nos permitia, até que alguem nos levava para nossa casa, nos deitava, já dormitando, ou ferrado no sono e acordavamos no outro dia com um belo sorriso no rosto lembrando de tudo que havia acontecido. era a conversa, e muita conversa entre nós, os amigos quando nos encontrávamos. Não lembro de nos vestirmos como caipira nem na nossa festa nem nas festas da escola, Acho, acho mesmo, pois não tenho certeza, que essa coisa de caipira, que veio importado lá de cima, são Paulo para cima, veio anos depois, coisa que nunca gostei e nunca quis me vestir daquela forma. Não é nossa tradição, não somos caipira, somos gaúchos. E assim era comemorado o dia de São João, com a fogueira que Isabel acendeu para enviar mensagem de que João havia nascido para sua irmã Maria que também esperava o nascimento de Jesus. Data essa que combinava com as festas das colheitas pelo povo, o chamado solstício de verão, que na europa era entre primavera/verão e aqui outono/inverno. Lembro da curiosidade que tinha, como sempre, em saber detalhes dessa festa, mas não obtinha resposta, pois não lembro de na escola nos falarem nos ensinarem nos mencionarem sobre. Apenas depois de adulto e por curiosidade fui pesquisar e descobri. O que importa é que curti muito, aliás, curtimos muito e acredito que meus queridos e inesquecíveis amigos jamais esqueceram daquelas festas incríveis, pois todos eramos glutões e era o dia de enchermos a pança, tanto que no outro dia nem queríamos comer direito, mas o arroz e feijão jamais deixei de comer, mesmo empanturrado de guloseimas e delicias da Festa de São João. Ah, esqueci de falar que muitas simpatias eram feitas naquele dia, principalmente por meninas, mulheres que queriam arrumar namorado, pois era santo casamenteiro também, e por quem queria ter filhos porque era batizador, em função de ter batizado Jesus Cristo. Outro dia escrevo sobre simpatias. Por ora é só, vou ficar nas memórias agora.