TEMPOS LÍQUIDOS

O sociólogo polonês radicado na Inglaterra, falecido em 2017, Zygmunt, esmiúça aspectos diversos da “modernidade líquida”, seu conceito fundamental. É assim que ele se refere ao momento da História em que vivemos. Os tempos são “líquidos” porque tudo muda tão rapidamente. Nada é feito para durar, para ser “sólido”. Disso resultariam, entre outras questões, a obsessão pelo corpo ideal, o culto às celebridades, o endividamento geral, a paranóia com segurança e até a instabilidade dos relacionamentos amorosos. É um mundo de incertezas. E cada um por si. “Nossos ancestrais eram esperançosos: quando falavam de ‘progresso’, se referiam à perspectiva de cada dia ser melhor do que o anterior. Nós estamos assustados: ‘progresso’, para nós, significa uma constante ameaça de ser chutado para fora de um carro em aceleração”, afirma.

 

Eu dialogo com o conceito de Zygmunt Bauman:

 

Tempos líquidos que se evaporam

No calor das dores e aflições

Da insegurança de ser e não ser

Nesta loucura do ter e não ter

Tempos líquidos dos valores liquidificados

Dos sujeitos-objetos aprisionados

E processados na liquidez do não saber

 

Tempos líquidos-voláteis e fugazes

Sem conteúdo durável e profundo

Tempos-mundo líquidos velozes

O não-princípio como um tsunami

O não-valor como valor premente

Tempos-líquidos humanos dementes

Tempos líquidos perdidamente...

 

Tempos líquidos de águas turvas

Tempos líquidos que não hidratam

Tempos líquidos insustentáveis

Tempos líquidos e movediços

Tempos líquidos de gente líquida

Tempos líquidos de morte sólida

Tempos líquidos de vida frágil...