O Campeão Mundial do Mundo

O Campeão Mundial do Mundo

Armstrong

Não se poderia dizer que ele era superdotado, desses que conhecemos um ou dois em nossas vidas. Para os que convivessem ou se envolvessem com ele, era alguém muito especial. Criativo, discreto, modesto, tímido, educado e sensível aos problemas sociais e ambientais do seu tempo. Desde criança começou a construir essas características. Filho de pais simples, de poucas posses, muitos irmãos, viu nas dificuldades enfrentadas um tônico excepcional para crescer cultivando esses dons e acumulando saber. Na escola, onde cursou os primeiros anos de sua vida acadêmica, se destacava sempre e era o orgulho das professoras, que viam nele tudo aquilo que gostariam que se realizasse nos outros alunos. Para seus colegas nunca parecia um adversário, mas um grande aliado. Nas horas vagas, claro, encontrava diversão tanto num pião de corda quanto no futebol ou em outras brincadeiras da sua idade. Quando não conseguia satisfazer sua curiosidade em casa ou na escola, logo estava nas bibliotecas devorando livros e mais livros. Gostava de imaginar a vida em tempos passados como se lá tivesse vivido. Observava monumentos ou ruínas de construções antigas como se estivesse lendo a própria história. Adorava as boas composições musicais, e sempre estava atento a tudo de bom que fosse produzido ou criado no seu tempo, principalmente filmes e livros. Lamentava que o homem, em toda sua história, quase sempre tenha usado o poder para acumular riquezas sem amar seu próximo, mas exaltava aqueles que procuravam lutar para o bem de todos. Em cada ciência, em cada arte, em qualquer tempo ou lugar tinha uma galeria de ídolos que os considerava como espelhos, ou irmãos talvez. Nas noites escuras, não perdia a oportunidade de olhar para o céu e ter a absoluta certeza de sua dimensão frente ao desconhecido, e reconhecia que tinha que ter humildade, que pouco sabia. Tinha consciência do longo e tortuoso caminho que ainda faltava ser percorrido para que o homem pudesse compreender sua própria história. Olhava para o céu como se tivesse vindo de lá.

Após a conclusão do curso de Doutorado em Física passou a trabalhar em uma universidade onde, por quase dez anos, se dedicou ao trabalho de manipulação de forças magnéticas visando à redução de forças gravitacionais por acreditar que, com isso, contribuiria para solução de muitos problemas de transportes. Desistiu quando visualizou uma pequena porta que poderia conduzir o homem a se aproximar mais rapidamente de Deus: a transferência viva de Padrões Básicos de Conhecimento Instalado. Tinha consciência do quanto poderiam ser diminutos os passos que poderia dar, mas, novamente, acreditou que com dedicação esse salto poderia ser de um campeão.

Foram mais vinte anos de muita perseverança, tempo em que aprendeu, mais do que qualquer um outro, a conhecer e mapear o cérebro humano com a utilização de seus modernos conhecimentos de bioeletrônica. Após essa longa e gloriosa busca, pode finalmente exclamar e explodir de satisfação quando conseguiu pela primeira vez, copiar os Padrões Básicos de uma composição musical diretamente para o cérebro de seu próprio filho. Sentiu-se plenamente realizado ao vê-lo cantarolar uma música que antes não conhecia. Foram momentos de êxtase, pois ambos sabiam que, a partir desse instante, o homem não mais seria o mesmo.

Os primeiros passos de suas pesquisas e comprovadas experiências, no entanto, quando foram divulgadas, passaram a ter fortes opositores que viam na Transferência de Padrões Básicos de Conhecimento entre humanos uma atividade perigosa; que precisavam avaliar melhor suas conseqüências para as gerações futuras, etc. Mas não houve jeito. Continuou avançando ainda mais, agora ajudado por seu filho que, a cada dia, ia sendo depositário de tudo o que sabia.

Estava já no ocaso da vida quando recebeu o título de Campeão Mundial do Mundo, o maior prêmio da comunidade científica internacional, concedido ao cientista mais destacado entre os mais consagrados em cada década. Em seu discurso, pediu que todas as honras e glórias também fossem divididas com seu filho, que estava ao seu lado, por sua decisiva participação na pesquisa. Sabia que, no seu cérebro, já estava uma grande parte de tudo o que tinha aprendido e que poderia continuar ativa. Que continuaria tentando a transferência completa que poderia permitir ao homem, enfim, utilizar corpos mais jovens para viver eternamente.

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Homenagem ao grande físico e educador paraense José Maria Filardo Bassalo, nascido em 10 de setembro de 1935, do qual eu tive a honra de ter sido aluno em 1973. Texto escrito por ocasião das comemorações pelos seus 50 anos dedicados ao magistério.