Nota de falecimento

Caros leitores, quem vos escreve é Kenia Tinôco... breve, mas sincera amiga desta mulher incomum e rara chamada Maria José Furtadinho Sarmento.

Eu a conheci a pouco mais de três meses, apenas. A primeira impressão que tive não pode ser chamada de impressão, mas profundos respeito e admiração. Eu a conheci com noventa anos e aos trinta e quatro desejei para mim aquela força e lucidez.

Tive a honra de receber de suas mãos seus escritos, digitados por sua filha, impressos num caderno espiralado. Eu estava curiosa, mas a falta de tempo fez-me criar oportunidade para começar a lê-lo quase uma semana depois; não pude mais parar. Li o caderno em uma noite, pois seus versos construindo a trama de sua história me capturaram até seu desfecho. Pedi sua permissão para publicá-los aqui e o faço e farei até suas últimas palavras.

A cada quinze dias salvava as páginas do Recanto com seus textos e comentários recebidos, punha-as no note-book da Gau (uma amiga em comum) e levava para que ela visse com seus próprios olhos suas coisas publicadas e admiradas por leitores de diversas partes deste mundo que é o nosso país. Fazia questão de responder os comentários e eu apenas os postava. Ela me era tão grata que até sentia-me culpada por sentir-me tão grata àquele brilho nos olhos, àquela alegria, àquela exaltação inocente por não entender muito bem o que era a “internet” e como centenas de pessoas a estavam lendo naquele instante.

Há pouco mais de duas semanas telefonei e disse que pretendia levar-lhe o “relatório” quinzenal, quando ela me disse que esperasse até o dia seguinte, pois estava indo ao Hospital para fazer alguns exames. Ela não voltou.

Hoje, após dias de incertezas e coma profundo, ela passa a inspirar-me em outro plano. Confesso descaradamente a inveja que sinto dos que a tiveram por mais tempo e percebo que mesmo estes a queriam por muitos outros anos, tamanho é o amor que inspirou em cada um dos seus. Entretanto tenho o dever de sentir-me grata pelo pouco que tive, pois sei que se cada um de nós tivesse a mesma sorte sentir-se-ia tão especial quanto eu me sinto agora.

Continuarei dividindo suas palavras com vocês, na certeza de que seus olhinhos estarão brilhando a cada comentário e cada leitura dedicados às suas palavras, no lindo lugar em que está, por puro merecimento.

Sem mais.

Vovó Zezé (Maria José Furtadinho Sarmento)
Enviado por Vovó Zezé (Maria José Furtadinho Sarmento) em 09/03/2008
Reeditado em 09/03/2008
Código do texto: T893300