"EU" E O ESPELHO

De novo...

Olho para o espelho...

Já não reconheço a "antiga mulher" no rosto que ali fito.

Observo que há uma outra pessoa a me perscrutar, tem meu rosto, meus traços, mas é muito diferente do que fui um dia. (Evitei esse confronto por longos tempos).

Vejo-me com o olhar interrogativo, sobrancelhas levemente arqueadas, boca entreaberta... (quero falar, falar...).

Não há raiva no rosto que reflete o meu, mas tenho indagações, inúmeras delas.

E... Começo o monólogo interrogativo:

- O que há comigo? Onde foi parar aquela mulher dócil, submissa, obediente ao seu senhor? Em que planície se escondeu? O que a forçou a sair em disparada e nunca mais retornar?

O meu reflexo resolve reagir, observo um leve sorriso indulgente, sinto que o perdão está patente, os meus pecados estão sendo perdoados um a um.

Continuo a olhar para a minha imagem, estou sentada em uma cadeira de espaldar alto, olhos bem abertos, querendo entrar pelo espelho adentro, como * os quatro irmãos, que atravessaram o nosso mundo para o mundo de Nárnia, através de uma passagem secreta no guarda-roupa ( Que **Aslam me proteja).

Divago... Lembranças me chegam aos borbotões, tempos idos, ou tempos vindos?

Escolho o novo tempo, mas não deixo de recordar que a história talvez pudesse ter tido um outro enredo, só que preferi me calar, quando deveria gritar; esconder os desejos secretos (muitas vezes devassos); matar a vontade do corpo que tremulava; frustrar os sonhos não realizados ( calei porque achava ser a melhor saída).

Lembro que sempre respondia às perguntas de como vai, com um tudo bem, tranqüilo, e dentro de mim, estava a fervilhar... (a quem queria enganar)?

Quantas pessoas riram de minhas palhaçadas! Eu também me divertia muito, era a maneira de espantar os meus fantasmas...

Descobri-me um dia, uma pessoa triste... De imediato, me aterrorizei, pois sempre me achara alguém sempre de “alto astral”, mas vi que eu gostava mesmo de levantar a estima das pessoas que vinham até a mim, só que não estava feliz (muito mal isso).

Coisa deprimente era chorar escondido (e como chorei!)

As pessoas criaram um “tipo” para mim, a eterna menina alegre, serelepe, feliz, aparentemente sem problemas... (era a imagem que vendera a vida toda).

Mas... Voltando ao espelho....

Ele foi o precursor da mudança... (beijo pra ele).

Comecei a olhá-lo devagarzinho, disfarçando, como quem não quer falar nada, depois, fui puxando a cadeira, "sentando de bandinha", agora, é olho no olho, frente a frente, já não fujo, e, posso perguntar o que sinto vontade, o “eu” está sendo bombardeado (no bom sentido).

Hoje desejo ficar sozinha, com a minha doce privacidade, sem ter que cuidar de ninguém, sem hora para dormir ou acordar, num verdadeiro “ócio”. Que mal há nisso? Quem já não quis o mesmo?

Das regras a mim impostas, levanto a bandeira da anarquia( graças a Deus).

Abaixo todas as castrações, isso inclui a falsa moralidade, abaixo a hipocrisia.

E. viva a liberdade de pensar e agir, e também a doce magia.

Parabéns ao espelho, velho companheiro abandonado por mim um dia,

Mas que agora, virou meu eterno e fiel escudeiro pra eu levar junto no dia a dia.

Finalizando este momento....

Quero dizer que: Hoje estou realmente feliz, vivendo um dia de cada vez, como se fosse um ex alcoólatra, mas podendo falar sempre: Hoje eu estou mais forte que ontem, e aos que me amam que me amem apenas, sem cobranças, sem imposições, pois a mulher que fui no passado entrou pelo espelho e se perdeu no inverso da imagem.

Agora, a mulher que me olha sorrindo, está pronta para VIVER, no sentido amplo da palavra.

...

Já posso (hoje) falar:

Segure minha mão... Caminhemos!

Adsantos (ADI) – 5/4/2008

* Trecho do primeiro livro da Série As Crônicas de Nárnia de C. S. Lewis

** Aslam - Simboliza Cristo, na história citada.

Adi
Enviado por Adi em 05/04/2008
Reeditado em 06/04/2008
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