A um anjo robusto, chamado Vera

A um anjo robusto, chamado Vera.

Éramos novos na cidade, conhecíamos poucas pessoas.

Precisávamos de uma empregada....

Ela chegou a nossa casa, recomendada por uma velha amiga.

No principio estranhamos aquele jeito desconfiado, tão próprio de mineiros do interior.

Chegava calada, mal dava bom dia. Parecia estar sempre de mau humor.

Nunca almoçava.

Preocupada, eu perguntava se ela não ia almoçar.

A resposta vinha seca, com meias palavras: Não posso perder tempo. Já estou acostumada.

Incomodada, eu insistia que em nossa casa era tudo a vontade. Ela poderia comer o que quisesse.

Mas ela era irredutível.

Sempre calada, de cara amarrada, ia fazendo o serviço..

Um dia perguntei: Você nunca come? Ela respondeu: Quando chego em casa, faço janta para meu marido e comemos os dois juntos. Não temos filhos.

E pelo jeito, jantava bem! Pois não conseguia baixar de peso, apesar da caminhada para chegar até nossa casa, e da faina do dia..

Na hora de ir embora, saia praticamente sem falar.

Há principio viera só para arrumar e limpar a casa. Com o passar dos dias, descobrimos que gostava de cozinhar. O que fazia bem e com prazer!

Entretanto continuava se mantendo distante... O que era motivo de reclamações por muitos, e de má interpretação.

Eu entendia sua timidez e admirava sua discrição.

Nunca comentava sobre sua vida, nem se metia na nossa. Apesar de estar sempre atenta, dando conta de tudo que se passava e do que precisávamos.

Os dias, os meses, os anos foram passando. E ela ali... Sempre no mesmo ritmo.

As netas menores já estavam moças. Outros netos nasceram... E ela ali, no seu posto observando tudo.

O velho patrão, antes tão ativo, agora tão dependente: ela não o perdia de vista; Pronta a dar-lhe a mão, sentá-lo a mesa, ajudar a lembrar a direção do quarto, ou a empurrar minha cadeira.

Vera, (este seu nome) sempre atenta a escutar minhas histórias, fazendo-me sentir menos só... Tornou-se nosso anjo da guarda..

Doze anos ali: firme, calada, de pouco sorriso; discreta até para comer em minha presença. De tempero saboroso!.. Do bolo de milho com café, que tanto gosto!

Vera, você é nobre!.. Um anjo em forma de gente, colocado em meu caminho, para me lembrar todos os dias, que Deus tem muitas formas de nos amparar.

Lisyt

.

Lisyt
Enviado por Lisyt em 25/04/2008
Código do texto: T960926