O grande vencedor...

Em um pequenino sítio, vivia Eli, um menino franzino como tantos outros que se vê por aí, nos resquícios de zona rural que resistem à urbanização e ao crescimento desordenado das cidades.

Eli era filho do Sr. Sebastião Marinho, um senhor negro, que depois de trabalhar muito duro para fazendeiros, arando terras no "lombo de burro" e "arrancando tocos" para poder preparar terras para pasto e lavoura, conseguiu comprar um pequeno sítio.

O Sr. Marinho era rigoroso, e Eli, aos seis anos já ajudava o pai e os seis irmãos mais velhos na vida dura da lavoura. Plantavam café, milho, mandioca e abóbora, criavam porcos, galinhas e algumas vaquinhas de leite, e Eli, pequeno, sempre carregando baldes de lavagem (sobras de comida) que seu pai, em uma carroça puxada por um velho cavalo recolhia nos vizinhos e na cidade mais próxima.

Um dia, passando próximo a uma escola, Eli viu os garotos saindo e ficou fascinado: cadernos na mão, short´s abaixo do joelho, camisa e gravatinha, sapatos...bem diferente dos trajes que usava, uma calça velha toda remendada por sua mãe, botina furada, camisa grande, herdada dos mais velhos...

Um dia, em meio ao milharal, Eli pediu ao pai:

_Pai, será que o senhor me deixaria estudar ?

O pai, soltou umas baforadas do cigarrinho de palha e disse:

_Pra quê? Isso não vai te levar a lugar algum, você tem é que ficar na roça e me ajudar, senão eu acabo perdendo tudo o que já conquistei.

Então, Sr. Sebastião pôde ver os olhos do menino inundados de lágrimas...

No outro dia, Eli acordou cedo e o pai levou ele e os irmãos ao milharal, para quebrarem milho, disse para que trabalhassem direito, deixou as marmitas no chão e voltou para a casa.

Quando Eli chegou em casa, viu, sobre a cama o short, a camisa, a gravatinha (só faltou o sapato), um caderno, um lápis e uma caneta tipo tinteiro, com um vidrinho de nanquim, e disse para Eli:

_Eli, você quer estudar e isso aqui é o que eu posso te dar...mas você quando chegar da escola vai trabalhar dobrado para ajudar a mim e seus irmãos.

Eli nem ligou, e já no outro dia, vestiu a roupa, calçou a botina velha, guardou os materiais em um embornal e partiu para a escola...quatorze quilômetros, à pé, porém o motorista do caminhão que recolhia o leite, depois de passar pelo menino algumas vezes, passou a deixar Eli na porta da escola todos os dias.

Não foi um tempo fácil, a volta era por sua conta, a pé, porém contente ele voltava para trabalhar na roça e fazer a tarefa escolar à noite, e foi assim...anos depois, partiu para a capital, onde fora aprovado em medicina, em uma Universidade Pública e hoje, Eli em seu consultório, relembra dos tempos difíceis pelos quais passou, da longa caminhada, da botina furada e dos ovos que sua mãe cozinhava para seu lanche; lembra também do pai que já se foi e dos porcos que o pai teve que vender para comprar o material escolar e o uniforme, e hoje, sente-se feliz em poder ajudar as pessoas, algumas que como ele já tiveram uma infância sem brinquedos ou luxos, marcada com muito trabalho, esforço e honestidade.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 09/05/2008
Reeditado em 25/08/2009
Código do texto: T981646
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