A geladeira do meu tio
Meu tio morava em São Paulo.
Além do trânsito infernal, da poluição daqueles tempos -que tornava o ar irrespirável-, da garoa que caía todo fim de tarde (ou pelo menos assim ele recordava), havia um barulho que o incomodava dentro de casa.
Era o motor da geladeira.
Geladeira velha, caindo aos pedaços, ultrapassada e nada econômica.
No final de cada mês, eram duas contas enormes para pagar: a de luz e a da farmácia!
Não havia um dia sequer em que ele não tomasse um analgésico!
Meu tio era a alegria do farmacêutico da esquina!
Os colegas de serviço, estavam sempre perguntando:
-Conseguiu dormir bem essa noite?
-Como está o ronco da nossa "amiga"?
-Quando é que o pão-duro vai trocar a geladeira velha?
Numa madrugada fria, sem conseguir dormir, levantou-se da cama e foi à cozinha.
Decidido, puxou o fio da tomada e desligou a geladeira, sem se importar com os alimentos lá conservados, num gesto extremo de desespero!
Aliviado, respirou fundo e voltou para o quarto.
Mal encostou a cabeça no travesseiro, ouviu novamente o zumbido da mesma geladeira que ele havia desligado há poucos minutos.
-Não é possível!- exclamou irritado. -Até desligada, essa geladeira me esquenta os miolos!
Pensou, finalmente, em trocar o eletrodoméstido por outro melhor.
Em vez disso, foi ao médico.
Diagnóstico: o "stress" da grande cidade já o havia atingido, causando, não só o cansaço físico, como a irritabilidade e o zumbido no ouvido.
E a geladeira do meu tio virou a piada da família.