CASAMENTO CAIPIRA
CASAMENTO CAIPIRA
Por Ivone Alves Sol
NARRADOR
Gente a esperá
Em noite de São Jão,
Noiva no artá
Só farta chegá o Jão!
NOIVA
Ai meu Santo Antonio,
Quê do meu Jão?
Será que vai deixá eu
Dispois de tanta produção!?
NARRADOR
Jão é cabra de palavra,
Bem que pensou desisti...
Mas se assim o fizesse,
Ia se ver com seu Didi!
NOIVO
Oxente, minha Fulô de Maracujá!
Ainda tá aí a me esperá, tá?
Magina se eu ia deixá ocê,
Prantada nesse artá!
NOIVA
Eu sei meu beija-flor,
Que a mim tu tem amô!
NOIVO
Vamu padre!
Case nois nesse momento...
Não tem nenhum impedimento,
Prêsse nosso casamento.
NARRADOR
O padre já cansado,
Não quer mais perdê tempo!
Chama os dois pro seu lado
Prumode fazê o juramento.
PADRE
Então venha pra cá
João Lutero Jatobá,
Trazeno consigo a sinhá
Maria Fulô Maracujá.
NARRADOR
Os dois vão pro artá
Cheios de felicidade,
Quando de repente
Aparece uma beldade!
AMANTE
Ô Jão Lutero sei lá de que!
Acha que vai se casá, é?!
Ocê imbuxa eu e vai casá,
Cum outra muié?
NOIVO
Mai eu nunca vi ocê,
Na missa nem na carniça.
Esse guri não é meu,
Essa muié uma bisca!
NOIVA
Ah!!! Jão Lutero!
Ocê vai ter que se expricá...!
Donde vem essa bisca,
Cum seu fio a carregá?!
PAI DA NOIVA
Ah!!! Mai vai mermo!
Só que num é a eu nem a ocê.
É cum delegado da puliça,
Que esse cabra vai se vê!
NARRADOR
O coração de Jão dispara,
Suas pernas treme toda.
Inté que chega uma moça
E decidida abre a boca
AMIGA DA AMANTE
Ontem mermo eu lhe vi,
Sua barriga só tinha banha.
Vamu logo de uma vez,
Acabe cum essa façanha!
(Amante e noiva brigam até que a noiva arranca a barriga falsa da amante)
DELEGADO
Parem ou eu atiro! (aponta a arma)
NOIVO
Eu num te disse minha Fulô,
Que só tenho ôi pra ocê!
Vamu padre, nos case logo,
Antes que a comida acabe,
E a gente fique sem comê!
NARRADOR
E assim segue o casório,
Noivo e noiva no artá.
O padre num se demora,
Para não contrariar.
PADRE
(faz o sinal da cruz e diz:)
Pode beijá a noiva!
NOIVA
Ai! Eu tou tão feliz!!!
NOIVO
Ah! Minha fulô...
Eu não vejo a hora de vê ocê
Fazendo meu café,
Pegano a tualha prumode eu me enxugá,
Preparano a mesa pra quando eu acordá!
NOIVA
Oxente! É só pra isso que ocê me quer, é?
NOIVO
Não! Nóis vai fazer muitos guri, num é?!
Sorta o som!!!
O Casamento Caipira ou Casamento da Roça é uma das principais atrações das festas juninas, principalmente no Nordeste. Normalmente, a noiva fica grávida e o pai força o casamento com seu “mal feitor". Este sempre chega bêbado no momento da cerimônia, depois de tentar fugir.
No meu texto, para variar, eu burlo os roteiros, é a amante que simula a gravidez. A história é diferente do conteúdo à estrutura, o que garante uma sonoridade interessante e um final bem divertido.