O chefe

— Quem é o chefe?

— Quem quer saber?

— Eu.

— Sou eu.

— Como você? Sou eu.

— Falei primeiro.

— Não, quem falou eu primeiro fui eu.

— O que você quer então?

— Fazer uma reclamação.

— Chefes não reclamam.

— Não sou o chefe.

— Você disse que era.

— Eu não. Disse que era meu o primeiro eu.

— Se eu é você não pode ser eu.

— Então por que disse que eu era você.

— Eu não disse, eu perguntei.

— Não devo ter entendido. Pergunte de novo.

— Quem é eu?

— Sei lá.

— Você disse que sabia.

— Eu não.

— Eu sim.

— Por que não disse isso antes?

— Isso o quê?

— Isso, que isso?

— Não sei.

— O que você não sabe?

— Quem é o chefe.

— Eu sou o chefe.

— Foi promovido?

— Eu já era.

— Meus pêsames.

— Quem morreu?

— Você disse que já era.

— Ainda sou.

— O quê?

— Chefe.

— Você já disse.

— Pois é.

— Pois é o quê?

— Como pois é o quê?

— Perguntei primeiro.

— Pois é!

— Hum. Deixa pra lá. Vou procurar outro chefe para reclamar.

— Reclamar do quê?

— Do meu chefe.

— Eu sou seu chefe.

— Pois é, vou reclamar para o seu.

— Meu o quê?

— Chefe.

— Não tenho chefe.

— Que sorte, hein?

— Pois é.

— Você aceita um cigarro?

— Obrigado.

— Eu aceito um café.

— Café é só para o chefe.

— Pô, preciso reclamar para o chefe.

— Que chefe?

— Deixa pra lá. Devolve meu cigarro.

Marcelo Melero
Enviado por Marcelo Melero em 29/01/2006
Reeditado em 08/10/2008
Código do texto: T105333