ABENÇOADA BAGUNÇA

Observe que, quando você resolve fazer em sua casa a considerada “BIG” faxina, você se depara com as terríveis quinquilharias que os outros membros de sua família teimam em guardar nos lugares mais inusitados. Porém, fica aquela pergunta martelando em sua frágil cabeça: “Jogar fora ou não jogar fora, eis a questão?!” Quase sempre a resposta é não! Por quê? Porque haverá calorosas discussões pela falta de um objeto qualquer, o qual nunca fez e nunca fará falta!

Vejamos o que encontramos:

Roupas usadas, que pertenciam aos falecidos nonos... “São apenas uma saudosa lembrança! Não estão tomando espaço no guarda-roupa, não é?”

Sacos plásticos com “santinhos” de fotografias de 7º dia dos seus antepassados... Vixi!!!

Coleção de figurinhas da copa de 74, com a cara daqueles “Brad Pitt´s” futebolísticos da época!

Brinquedos mil, obsoletos para nossa atualidade, cujo brinquedo se resume num só: INTERNET!

Quantidade exagerada de cobertores e edredons, empilhados em um dos compartimentos do guarda-roupa, tomando mais espaço que obeso em ônibus lotado. E olha que estamos num “país tropical, abençoado por Deus”, que já foi “bonito por natureza”, natureza esta devastada pelos homens, mas isso é outro papo!

Continuando... pares e pares de sapatos, os quais nunca mais vão ser usados. Inclusive as mulheres bagunceiras costumam guardar aqueles feiosos “tamancos”.

Bibelôs “indescartáveis”, tipo “pingüim de geladeira”, búricas pertencentes àqueles que um dia foram crianças, vasinhos de louça com o canto da boca lascada que eram da minha bisavó, sem contar o chapéu que parece aquele do Santos Dumont, o qual era do seu marido! (ninguém merece!).

Calças boca-de-sino dos anos 70, da era “black power”, jogadas entre as naftalinas, em mais um cantinho cuidadosamente desarrumado pelo teimoso proprietário dessa porcaria (desculpem-me os palmeirenses, mas isso sim que é porcaria).

Quando algum albergue procura fazer a campanha de arrecadação de roupas usadas, a fim de vestir aquele “pobre coitado”, que só tem farrapos de panos para envolver seu corpo, atendendo ao portão, você diz:

- Passe outro dia, hoje eu não tenho nada!

Enquanto isso, alguns dos móveis de sua casa estão quase a vomitar aquelas roupas velhas, junto com os calçados antigos, cujo valor, para você, é sumamente sentimental, ou seja, impagável, inegociável, porém, para mim, não passa de IMPRESTÁVEL!

Aí você pensa, intimamente: “Jamais daria aquela camisa que pertenceu ao meu pai!”

Enquanto o moço do albergue está batendo palmas no vizinho, você, talvez penalizado com o argumento usado pelo arrecadador, num impulso de benevolência, encontra um artigo que pertencera a um tio, que NÃO é tão saudoso assim. Então, aos gritos, chama aquele que ouvira uma pequena mentirinha, a de que você não tinha nada em casa.

Estendendo pois as mãos pelas grades do portão, o homem recebe de você uma “gravata”, e, com um olhar de desapontamento, ainda lhe diz: “Deus lhe pague”.

Pronto!... Você fez sua boa ação do dia, ganhou mais um ponto positivo no céu! Contudo, você se esqueceu de pensar: Pra que um mendigo iria usar uma gravata?

“Entonces”, guardar ou colecionar porcarias faz parte da cultura do brasileiro.

Pra falar a verdade, eu prefiro a minha parte em dinheiro!!!