Dodge Gaucho Dart

Dodge Gaucho Dart

Gaúcho ele era até debaixo d’água, daqueles tradicionais.

Quando não estava trajando seu uniforme de comandante da Varig, certamente era visto de bombacha, e vez por outra todo “piuchado”, com os complementos da roupa tradicional dos pampas, guaiaca, botas, lenço no pescoço, e boina ou até chapéu....não chegava a colocar a faca.no cinto, mas o chimarrão andava junto, até nos vôos internacionais.

Duas eram suas paixões, o Rio Grande do Sul e o Dodge Dart amarelo de capota de vinil preta.

Viaja pra lá , viaja pra cá e a volta pra casa em São Paulo era pura excitação, afinal o Dojão estava ali parado na garagem, debaixo de um grosso cobertor de feltro azul, a cor do Grêmio.

Não é preciso dizer que os vizinhos o chamavam de Gaúcho, e andando daquele jeito, quando passava em frente a padaria do João Português, sempre ouvia um fiu ..fiu...do chapeiro, um paraíba gozador.

Certa vez, depois de passar uma semana em viagem a Europa, o Gaúcho não via a hora de chegar, pegar o Dojão e dar umas voltas pelo bairro,curtindo seu amor,amarelo e preto.

Chegou, rapidamente se trocou, e o ronco do motor de 8 cilindros se fez ouvir, saindo da garagem e tomando a rua.

Dois quarteirões após sua casa, eis que vem sem freios, um fusca velho, daqueles que não se pode esperar mais nada, a não ser uma escada de pintor na capota, e pimba..., tromba com a porta do lado do passageiro do Dojão.

-Bah tchê, mas tu não tinhas outro lugar pra bater seu fuca...

-Pois é seu moço, eu pisei no freio, mas o fusca não parou...acho que ele esta precisando de uns reparos...

-E agora o que eu faço com meu Dojão?

-Tem jeito não moço, tô na lona e o fusca nem é meu, tamo ferrado...

O Gaúcho retornou a sua casa, colocou o Dojão na garagem e puto da vida, o cobriu...resolveu que ficaria uns tempos sem usar ou arrumar, até pensar melhor como faze-lo...era como se seu companheiro ficasse paralítico pra sempre, tinha que dar um tempo.

Passaram-se uns dois meses; o Gaúcho voando pra lá e pra cá, e o Dojão ali, debaixo do pano azul , estático, ferido na porta dianteira direita.

Decorrido esse tempo, um dia o Gaúcho regressando de outra viagem, resolveu que daria uma voltinha no Dojão, mesmo com a porta naquele estado.

Chegou em casa, se trocou, colocou sua melhor bombacha, boina torta na cabeça, foi a garagem , abriu a porta; chaves no contato e nhem..nhem...nhem...a bateria havia arriado.

Saiu a pé, até a oficina do Maurinho, um negão baiano, de uns 120 quilos, e o chamou para verificar se dava um jeito no Dojão.

Maurinho foi até a garagem, com o Gaúcho ao seu lado, abriu o capô, mandou dar a partida...depois de uns segundos setenciou faceiro...

- Gaúcho, fica tranqüilo...é só fazer uma “chupetinha” e eu faço o carro pegar.

Meio que no automático o gaúcho emendou...com outra pergunta:

-E se além da chupeta eu te der a bunda, consertas a porta também????

Lune Verg
Enviado por Lune Verg em 08/07/2008
Reeditado em 08/07/2008
Código do texto: T1071476