Não tem graça; é uma desgraça

Escrever na, digamos assim, coluna de humor é de uma pretensão ímpar. Por que eu poderia julgar que isto que estou a escrever é engraçado? Por que pressupor que os outros acharão engraçado, e portanto lá vou eu, escrever na coluna de humor?

Já ouvi dizer por aí que as pessoas que se acham engraçadas, na verdade não tem a mínima graça. Logo, é fácil concluir que as pessoas que escrevem qualquer coisa e riem sozinhas em casa, são pessoas que se acham engraçadas. Portanto, sem a mínima graça.

O humor é algo pessoal como o cabelo. Cada um tem o seu, de diferentes estilos, texturas e tamanhos, embora alguns não tenham humor. De fato, falta humor na cabeça de muitas pessoas - sobretudo homens a partir dos 20 e poucos anos que já tem histórico familiar de pessoas desprovidas de humor.

Não quero ser humorado e de fato não o sou. A maior pretensão das pretensões é achar que algo pode ser engraçado. Paradoxalmente (ou não) atualmente a desgraça é engraçada par grande parcela da população. Ou seja, a graça reside na desgraça, e quem quer fazer graça cai em desgraça.

Talvez Graciliano Ramos pudesse ter sido um sujeito engraçado. Mas preferiu relatar as desgraças do povo em algumas de suas obras a fim de não ser engraçado. Mas, ainda assim, caiu nas graças do povo.