O BÊBADO, AS VELHAS E O CAIXÃO

O folclórico Zé Barata estava em um bar na saída da cidade, esperando uma carona. Zé Barata era um deficiente mental que vivia bêbado. Morava em Abaeté MG e estava querendo uma carona para a vizinha cidade de Paineiras. Ninguém queria levá-lo, pois vivia bêbado e cantando pelas ruas. Parou um caminhão na porta do bar e o motorista desceu para comprar cigarros. Zé perguntou:

-Ei cunhado, vai pra Painera?

-Vou sim por quê?

-Me dá uma garupa...

-Negativo, a cabina tá cheia e na carroçaria é muito perigoso, a estrada está cheia de buracos.

-Ah, cunhado me leva... E tanto insistiu que o motorista acabou concordando:

-Tá bem, mas segure bem se você cair nem vou parar para te acudir...

o Zé ágil como um macaco pulou na carroçaria do caminhão e feliz da vida ficava fazendo macaquices para todos que passavam. O caminhão estava praticamente vazio. Na carroçaria havia apenas um caixão de defuntos vazio, para uma pessoa que morrera em Paineiras.

Começou a viagem. Era tardinha e já estava escurecendo. Estava ameaçando um temporal pelos lados de Paineiras. Logo um vento frio fustigou Zé Barata, e começou uma chuva fria. Sem ter onde se abrigar e incomodado pela chuva e pelo vento, pensou um pouco e resolveu entrar no caixão. Levantou a tampa e aninhou-se lá dentro.

Embalado pelo balanço e pelo barulho monótono do caminhão, aliados a uma boa meia garrafa de pinga "29" ele ferrou no sono.

Passando pelo povoado de Patos, três senhoras idosas deram sinal para o motorista parar, pedindo carona. O motorista com pena das velhas, mandou-as subir e recomendou que segurassem bem. Uma das velhas no escuro, tropeçou na ponta do caixão, caindo sobre ele.

De repente um fenomenal relâmpago riscou os céus e a velha se viu agarrada ao caixão.

-Santantonho da Taboca, que qué isso?

E se ajuntaram temerosas em um canto perto da cabina. De repente Zé Barata começou a roncar e roncar como uma motoserra. As velhas arregalaram os olhos e perguntavam que sons lúgubres eram aqueles que vinham do caixão. Elas se persignaram e rezaram o Credo e o Salmo 90. Zé não sei se tendo um pesadelo ou sonhando com uma garrafa de 29 começou a resmungar em voz alta palavras sem nexo.

Aí as velhas em pânico começaram a gritar e a rezar ao mesmo tempo.

O motorista alheio ao drama das velhas, com os vidros fechados, nada percebia. Com um trovão mais forte e com a ladainha das velhas, Zé Barata acordou e com um movimento brusco, abriu violentamente a tampa do caixão e sentando-se ereto nele, perguntou com sua voz gutural:

-Ei, a chuva parô?

Nem preciso dizer que pulou véia pra todo lado...

* * *

Condensado do livro "Historinhas, contos e causos" do autor.

HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 20/08/2008
Reeditado em 20/08/2008
Código do texto: T1136953