Sombra, seu irmão e o Mazzaropi

Quando nasceu o irmão caçula de Sombra, todos ficaram impressionados ao ver como era grande a sua cabeça e, por isso mesmo, tiveram dó de sua mãe - uma heroína, diziam - que o trouxera ao mundo através de um doloroso parto normal.

Por incrível que possa parecer, acabou se tornando o mais bonito dos irmãos homens, depois que passou pela adolescência...

Veio ao mundo sem um nome definido, pois era seu pai quem sempre decidia os nomes dos filhos, mas, naquele momento, estava acontecendo um veto de sua mãe, que não concordava com o nome proposto: Rolando.

Ela dizia: - Ele será objeto de gozações, pois, os outros dirão:- Vai Rolando, vem Rolando, sobe Rolando, desce Rolando, pula Rolando, deita Rolando, trepa Rolando... E mais, um sem fim de gozações...

Nome descartado, encontraram outro, que, para Sombra, não foi uma boa escolha, pois já vinha marcado por um grave erro de concordância: - Osmar, foi o nome que lhe deram.

O nome deveria ser -na opinião de Sombra- Omar, ajustando assim, a concordância no singular...

Passou, por isso, boa parte de sua vida, puto da vida, quando lhe chamavam de Osmares, Onzemar, Osmarmota, Osmarmita e, mais um monte de outros nomes, que lhe enchiam o saco, e que, ele retrucava na hora, tornando o ato de lhe amolar, mais gostoso ainda...

Na cidade em que moravam existiam dois cinemas e, num deles, estava programado um filme do Mazzaropi, que sempre fazia o maior sucesso, mas que era proibido para menores de 10 anos e, ele, Osmar, só tinha oito. Fez então a maior birra, pois queria porque queria assistir o tal do Mazzaropi, de quem, todos, falavam maravilhas.

Pelo regulamento da época, os menores, só entrariam se estivessem acompanhados por alguém que fosse maior de 10 anos.

Tarefa que foi jogada no colo de sua irmã -de onze anos- que não gostou nada, por ter sido a escolhida depois que ficou, evidente, uma absoluta ausência de voluntários...

Os filmes do Mazzaropi, sempre eram antecedidos por filas enormes que viravam o quarteirão e, lá na fila, Osmar -de calças curtas- e sua irmã Judith, se deliciavam chupando uma bala comum na região, chamada chita -bala chita- que era feita a partir do abacaxi.

Depois de um bom tempo na fila, Osmar aproximou-se de Judith e lhe confessou:- Preciso fazer cocô, não aguento mais...

Judith, indignada, lhe disse que segurasse até que entrassem no cinema.

Ela continuou: -Lá dentro, com os nossos lugares já assegurados, você vai ao banheiro e resolve o seu problema.

Judith explicou-lhe que se saissem da fila, naquele momento, perderiam o filme, pois o cinema iria lotar em pouco tempo.

Osmar, que era dado a descargas intestinais inesperadas e incontroláveis, não mais suportando a dor que sentia, segurou as pernas de suas calças curtas de encontro as coxas -naquele tempo os garotos não usavam cuecas- para que nada vazasse, fazendo o seu serviço -sem nenhuma cerimônia- ali, na própria fila...

Segurando o tempo todo as pernas de suas calças, Osmar, mais sua irmã Judith, depois de passarem pela bilheteria, correram para conseguir bons lugares -coisa que fizeram- bem no meio da platéia.

Judith ainda tentou dizer para Osmar não se sentar, sem antes ir ao banheiro, mas, com medo de perder o lugar para alguém mais esperto, Osmar sentou-se. Colou-se, seria a palavra mais correta...

E colado ficou até o fim do filme.

Desnecessário dizer que não havia mais nada a ser feito, naquela circunstância.

Considerando que estavam num ambiente totalmente fechado, sem ar condicionado, tecnologia pouco comum naquele tempo, o mau cheiro foi se espalhando por todo o recinto do cinema.

Sombra que se sentara bem lá atrás, tendo por isso, uma visão total da platéia, não sabia de nada do que estava acontecendo,

mas, pode ver que algo muito estranho estava fazendo com que as pessoas, lá do meio da platéia, abandonassem o cinema.

Quando Sombra se deu conta, haviam somente duas pessoas sentadas, que, pela cabeça, teve a certeza que se tratava de seu irmão e, naturalmente, de sua irmã.

Em volta deles, um enorme círculo de cadeiras vazias, desocupadas, e onde, ninguém se atrevia a sentar.

Uma verdadeira clareira, como se ali houvesse caído uma bomba...

Sombra pode então observar que, pelo chacoalhar de seus corpos -seus irmãos- se divertiam a valer com o filme do Mazzaropi, totalmente abstraídos daquele mau cheiro, que só voltaria a ser um grande problema, quando terminasse aquela sessão...

Aimberê Engel Macedo
Enviado por Aimberê Engel Macedo em 25/08/2008
Reeditado em 21/05/2010
Código do texto: T1145366
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