"São Bôrno- Padroeiro dos Corruptos" =Crônica de Humor=

Ler jornais ultimamente tem me causado uma certa revolta. Fico vendo o que acontece no mundo e minha amargura vai crescendo a cada página que leio ou passo os olhos. Paro, reflito, comparo com a minha vida, e vai me batendo uma tristeza, uma mágoa que vou te contar...É triste, tristíssimo, o que me passa pela cabeça. Veja se não dá pra revoltar um ser humano:

- Em mais de seis décadas de vida jamais me pegaram com dólares na cueca. Nem nas mãos, nos pés, debaixo da camisa, em casa, no carro. Ou seja, até o presente momento estou como sempre estive: completamente desdolarizado. Minto. Tenho um dólar que um mendigo me deu achando que era real falso. Desde esse dia nunca mais me faltou dinheiro. Tenho sempre pelo menos um dólar na carteira;

- Conta na Suíça é coisa que ninguém jamais suspeitou que eu tivesse. Ninguém nunca me deu essa satisfação, que seria apontar-me o dedo e dizer: “Ele em uma conta-secreta na Suíça”, e o melhor: provar isso;

- Convite para uma boa maracutaia ninguém nunca, jamais, em tempo algum se lembrou de fazer-me. Nem naqueles bons tempos que a escuta telefônica só era feita se alguém grudasse ao lado do telefone e depois contasse o que ouviu, ou em posto telefônico de cidade do interior, onde a telefonista sabia da vida e das conversas de todo mundo;

- Nepotismo comigo só aconteceu quando meu pai me empregou no cursinho dele, de preparatório para o Banco do Brasil. Bons tempos...A cada semana eu era demitido no mínimo duas vezes e readmitido no dia seguinte por falta de substituto à altura (ou à baixura..). Agüentei esse emprego ioiô dos treze aos dezoito anos e isso talvez seja a causa da instabilidade-emocional-trabalhista que sinto até hoje. Tanto é que nunca mais tive emprego. E por falta de emprego sempre tive que trabalhar muito;

- Jamais tentaram me subornar com um Land-Rover, um Opala, um Fusquinha usado ou mesmo com uma bike “só-o-pó”. Isso dói;

- A única vez que me molharam a mão foi quando me ofereci para segurar o bebê de uma senhora, no supermercado, e o merdinha mijou nela. Na minha mão.

O acima exposto não quer dizer, de maneira alguma, que eu tenha levado uma vida virtuosa. Já molhei a mão de muitos...deixa pra lá. Melhor ficar quieto. De repente eu volto a precisar deles...

Só me resta continuar rezando aos pés de São Bôrno. Dizem que mediante um suborno, digo, comissão, de dez a vinte por cento ele faz milagre$.

Fernando Brandi
Enviado por Fernando Brandi em 27/08/2008
Código do texto: T1149223
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