AS DESCULPAS DE MARCO AURÉLIO

Marco Aurélio era um “milongueiro” típico brasileiro, um verdadeiro “matusquela”. Vivia dando desculpas para tudo. Quando criança, por exemplo, tirando notas baixas na escola, dizia para seus pais, antes que os mesmos se revoltassem contra ele, que suas notas baixas se deviam ao tempo que perdia com seu coleguinha, o qual se sentava ao seu lado, na tentativa de orientá-lo, “pois era cego de nascença”.

Em sua adolescência, dava desculpas aos atrasos nos encontros com a namorada, porque sempre o motorista do ônibus não vira seu sinal de pedido de parada, passando reto de seu ponto.

Fumava sempre escondido, pois aqueles que conviviam com ele reprovavam tal atitude, e para disfarçar o cheiro fétido do cigarro, chupava balas mentoladas de eucalipto e hortelã (ninguém merece!). Quando inquirido por seus amigos sobre seu “hábito” diário de chupar essas terríveis balas, vinha ele com essa desculpa: “Não é que tenha mau hálito, é que uma das guloseimas que eu mais gosto são essas balinhas, com seu sabor refrescante.”

Marco Aurélio também não poupava nem o seu trabalho. Quando não apresentava uma produção satisfatória, por estar no mundo da lua, era chamado, aos brados, por seu chefe “Al Caponiano” para uma conversinha, em sua sala:

- Marco Aurélio, você quer ir para o olho da rua???, dizia “O Poderoso Chefão”.

- Claro que não! Sabe, “querido” chefe, é que estou com “TENOSSINOVITE”. Estou sofrendo muito, só Deus sabe, com uma dor incontrolável, por isso a queda de minha produção. Mas, para que o escritório não sofra as conseqüências, não tiro licença médica, e faço um sacrifício, além dos meus limites, para vir trabalhar. - Desculpava-se, assim, o cara-de-pau, sem ficar nem um pouco ruborizado.

Marco Aurélio gostava muito de correr com seu possante carro. Quando parado por algum policial, sempre dava as desculpas de que estava correndo muito, no intuito de buscar “sua irmã”, em sua casa, pois devido a um telefonema que acabara de receber em seu celular, ela já estava com as dores do parto. Portanto, “alguém tinha de ir levá-la até o hospital, não é?”

E olha que Marco Aurélio era filho único.

Na esfarrapatice dessa desculpa, alguns caíam, outros não! “Não custa tentar, né?”

Em um desses “rachas” urbanos, que tanto Marco Aurélio disputava, veio ele a bater num estático poste de iluminação pública, RACHANDO-O ao meio, tamanha a velocidade empreendida pelo veículo (penso eu que, por isso, esse tipo de “esporte” tem a conotação de “RACHA”). Para se ter uma idéia, Marco Aurélio não foi nem para o hospital. Foi para o necrotério, direto.

Em meio à agitação deixada por ele, aqui na Terra, na ocasião de seu passamento “desta pra melhor”, Marco Aurélio apresentou-se perante São Pedro.

- Bem! Seu nome é Marco Aurélio! Vamos abrir o livro de entradas aqui do Céu para saber se o seu nome está relacionado nele – dizia São Pedro, passando o dedo indicador naquela infindável lista de nomes contidos no interior do monumental livro.

- É, Marco Aurélio, seu nome não se encontra em nenhuma lista daqui do Céu - afirmou São Pedro, balançando a cabeça, em sinal de desaprovação às atitudes de Marco Aurélio, enquanto vivera na Terra.

Porém, sem pestanejar, Marco Aurélio veio com mais uma desculpa, essa então, nem se fala!

- São Pedro, será que, quando o senhor foi anotar o MEU NOME neste livro, naquele dia, não teria acabado a tinta da sua caneta?

Como foi dito, “NÃO CUSTA TENTAR!!!!”