CANTANDO A COMADRE

O famoso contador de causos, Quinzinho, vaqueiro do Gamelão, estava em uma roda de potoqueiros, quando um deles perguntou:

-Quinzinho, o que que foi feito daquele cumpade seu, o João Catitú?

-Ah, eles mudô lá pra Goiais e nunca mais tive nutiça dele não...

-É ou num é verdade, que ocê rastava a asa pra banda da sua cumade...

-Ah, a cumade era muito fogosa, e o cumpade João num tava cumprino bem suas obrigação cum ela não...Ela sempre me recramava que ele num pricurava ela...Eu ficava sem jeito, né? eu tinha respeito prela, afirnar de conta ela era minha cumade...Ela tinha uma carinha safada e um curpinho de violão, violão não, tava mais pra cavaquinho, ela era piquitita...

-Dexa de inrolação e conta logo se ocê chegô o trem nela...

-A cumade sempre que topava cumigo sozinha ficava "jogano barrinho", mas eu tinha medo, né? e se ela tivesse jogano verde cumigo? eu cantava ela e ela contava pro cumpade João, e o cumpade era brabo dimais...

-Uma tarde eu tava carriano lenha, e topei cum a cumade que vinha da fonte cum uma troxa de ropa na cabeça, eu já tinha discarregado a lenha e ofirici garupa pra ela, ela trepô na carroça e nois fumo prusiano. Eu contava um causinho mais saliente, ela ria e ficava incostano ni mim, eu fui ficano meio ixartado e tive uma idéia: eu tinha na carroça duas junta de boi, na guia era o Diabo e o Discanso, Discanso era um curralero que gostava só de ficá na sombra... no cabeçaio era o Rochedo e o Canadá. Eu firruei os boi do cabeçaio e falei:

-Força Canadá, vorta Rochedo, tô quereno pidi a cumade mais tô cum medo...

A cumade respondeu bem arto:

-Vorta Rochedo, força Canadá, pode pidi sem medo que a cumade dá...eh, eh, eh...

-Eu memo assim ainda fiquei cum medo, sei lá se a cumade tava era brincano... E gritei:

-Força Discanso, vorta Diabo, a cumade é boa mais o cumpade é brabo...

A cumade gritô:

-Vorta Diabo, força Discanso, tem pirigo não, o cumpade é corno manso...

-Ai tamém não santo rejeste, né? Eu ajuntei os pano da cumade ali memo... eh, eh, eh...

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 10/09/2008
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