QUER ESTA VAGA?

PRECISA-SE! MAS NINGUÉM QUER...

Trabalhando na Prefeitura, fui incumbido de entrevistar interessados para duas vagas de vigia. Motivo das vagas: furtavam objetos, principalmente placas de bronze, dos túmulos no cemitério local. Como a maioria dos pretendentes desistia logo que sabia onde teria que trabalhar, resolvi, da última vez, ir mais devagar e com mais tato, para tentar convencer o entrevistado. Deixei essa informação comprometedora para o final. Falei do salário, dos benefícios, do revezamento, dos acréscimos sobre as horas trabalhadas por se tratar de serviço noturno, enfim, fui adoçando a conversa até perceber o interesse estampado no seu rosto. Sempre que ele perguntava o local de trabalho eu desconversava. Enrolei até onde pude, mas teve um momento em que não deu mais e tive que contar a verdade. Olhei bem nos seus olhos e disse:

– “Pense bem, é um serviço tranqüilo, num local muito calmo, ninguém vai lhe apurrinhar no serviço e você terá liberdade total para ouvir seu radinho, passear à vontade na área e pode ter certeza que não terá nenhum chefe pegando no seu pé.”

Claro, esmola demais até santo desconfia. Nessas alturas ele, que já me olhava meio atravessado, pergunta com a voz quase sumindo:

– “Mas, então, aonde é mesmo que será essa trabalho?” Desvio do seu olhar, para não rir, porque, no fundo, eu já sabia qual seria sua resposta e solto, na bucha:

– “No cemitério.”

– “No cemitério?!...” pergunta, ele, desanimado.

– “Sim, no cemitério. Vai querer?”

– “Não! Mas não quero mesmo!”

– “Por que, não?”

– “Sabe o que é? – responde ele, depois de uma pequena pausa – é que é um servicinho meio morto, entende?...”

Sim, nós entendíamos. E as entrevistas pararam por ali mesmo.

Lourenço Oliveira
Enviado por Lourenço Oliveira em 04/03/2006
Reeditado em 17/03/2006
Código do texto: T118419
Classificação de conteúdo: seguro