ESSA É DO MEU PAI, NESTOR TANGERINI

A escolinha do Prof. Tangerini:

A INSTRUÇÃO NA PANDEGOLÂNDIA

Esquete de Nestor Tangerini

Peça: Na Dura! [Teatro de Revista]

Companhia Teatral Jardel Jércolis.

Teatro Santana

São Paulo, SP, 1937

INTÉRPRETES CRIADORES

Diretor................................... Pepito Romeu

Inspetor................................. João Silva

Professora............................. Viana de Souza

1º aluno................................. Elvy Dorly

Ministro................................ Matinhos

Sua Excelência..................... Nino Nelo

Outras alunas....................... Figurantes

1ª parte

Sala de lições, de escola secundária.

ALUNAS, DIRETOR, INSPETOR E PROFESSORA

Alunas, às carteiras; Inspetor, à mesa da mestra; Diretor e Professora, um à esquerda e outro à direita do Inspetor. Todos de pé.

ALUNAS: – (cantando) Pô, pô, pô, pô, pô, pô!

O hino que nós cantemo Bis

em lovô do Inspetô!

DIRETOR: – (às Alunas, depois de palmas moderadas, dele, de Inspetor de Professora). Queiram sentar-se. (Alunas sentam-se) Muito bem. (Ao Inspetor) Então, Sr. Inspetor, qual a sua impressão a respeito da escola que tenho a honra de dirigir?

INSPETOR: – (posudo) A minha impressão eu lha darei após ligeiro interrogatório aos alunos; ao qual passo a proceder.

DIRETOR: – Perfeitamente.

PROFESSORA: – Pois não.

INSPETOR: – (a uma aluna) Aí a menina.

ALUNA: – (levantando-se) Eu, Sr. Inspetor?

INSPETOR: – A senhorita, sim. Diga-me: quem foi que roubou a taça da Comuna Francesa? (a Aluna leva os braços aos olhos e põe-se a soluçar).

INSPETOR: – (à Aluna) Está chorando?

ALUNA: – Não fui eu, não, senhor!... Juro por Deus que não fui eu!...

AS OUTRAS: – Não foi ela, não! Não foi ela!

INSPETOR: – (à Professora) Como é, Professora? Que explicação me dá, diante de tal resposta?

PROFESSORA: – Sr. Inspetor, a aluna é filha de família tão distinta, que não acredito haja roubado a taça.

INSPETOR: – (ao Diretor) E o Sr., seu Diretor? Que me diz diante do que acabo de ouvir?

DIRETOR: – Também não creio que a pequena tenha praticado ação tão feia. (CORTINA).

LOCUTORA

(que surge de entre a cortina)

Em face do presenciado

(coisa incrível, seu registro),

o Inspetor, apavorado,

vai direitinho ao Ministro. (Sai, por entre a cortina que se abre).

2ª parte

Sala de audiência do Ministro.

INSPETOR E MINISTRO

(sentados)

INSPETOR: - Creia, Sr. Ministro, que o fato que lhe venho relatar é de

molde a lavrar o descrédito da instrução.

MINISTRO: - (solene) Ouvi-lo-ei atentamente, esperando seja o seu re

lato proveitoso à nossa reforma de base. (Onde há um as-

terístico, modernizou-se a fala).

INSPETOR: - Inspecionando a Escola Modelo, perguntei a uma aluna -

em aula – quem roubara a taça da Comuna Francesa; a

pequena cai em pranto e jura-me não ter sido dela. As

colegas a defendem. Interpelo a Professora sobre seme-

lhante resposta e a mestra me declara não acreditava que

a aluna tão distinta tivesse roubado a taça. Dirijo-me ao

Diretor – e este me responde não crer, também, que a

aluna houvesse praticado ação tão feia. E tenho dito, Sr.

Ministro.

MINISTRO: - Bem... Vamos fazer uma coisa: (em tom confidencial)

para evitar escândalo, eu pago a taça. (CORTINA).

LOCUTORA

(que surge de entre a cortina)

O Inspetor, decepcionado

com o gênio ministerial,

retira-se e, inconformado,

vai correndo ao maioral. (Sai, por entre a cortina, que se abre).

3ª parte

Sala de audiência de Sua Excelência.

INSPETOR E EXCELÊNCIA

(sentados)

INSPETOR: - Creia, Sr. Presidente, que o fato que lhe venho relatar é

de molde a lavrar o descrédito da Instrução, em prol de

cuja eficiência muito se empenha Vossa Excelência.

EXCELÊNCIA: - (solene) Ouvi-lo-ei com a particular atenção que me-

recém de mim os problemas de cúpula. (Onde há um

asterísco, modernizou-se a fala).

INSPETOR: - Inspecionando a Escola Modelo, perguntei a uma aluna –

em aula – quem roubara a taça da Comuna Francesa; a

pequena cai em pranto e jura-me não ter sido ela. As colegas

a defendem. Interpelo a Professora sobre semelhante

resposta – e a mestra me declara não acreditava que a aluna

tão distinta não houvesse roubado a taça. Dirijo-me ao Diretor

– e este me responde não crer, também, tivesse a

aluna praticado ação tão feia. Vou então ao Sr. Ministro –

e o Sr. Ministro me responde que – para evitar escândalo

– pagaria a taça. E tenho dito, Excelência.

EXCELÊNCIA: - (como que admirado) O Ministro disse isso?

INSPETOR: - Sim, Excelência: que pagaria a taça foi o que o Ministro

me respondeu.

EXCELÊNCIA: - Então pode ir sossegado – porque o Ministro é sério e

paga no duro.

- CORTINA –

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Obs.:

Vários humoristas se dizem autores deste esquete. Por estar defendendo a obra e a memória de seu pai, o escritor Nelson Marzullo Tangerini está sendo boicotado pela imprensa brasileira.

ARQUIVO FAMÍLIA TANGERINI

nmtangerini@gmail.com, nmtangerini@yahoo.com.br

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 10/11/2008
Código do texto: T1275397