NATAL OU PRIMEIRO DE ABRIL?


De minha parte, sem qualquer intenção de afrontar o que ou a quem quer que seja, considero que seria de muito bom alvitre a introdução de algumas inovações que viessem  corrigir certor equívocos que, por ingenuidade ou conveniência permeiam os costumes do povo brasileiro no que se refere ao Natal.

Apenas para detonar a consciência do prezado leitor, poderámos nos ater à sacra comemoração do natal à qual chamam  "missa do galo". Jamais ocorreu-me, apesar de sinceros esforços,  qualquer alusão que viesse arrefecer o sentimento de injustiça que aflige-me diante de tão imerecedora homenagem. Por quê "missa do galo"? Não seria mais justo "missa do peru"? Consideremos que ao exato cantar do galo não é propriamente nele  que pensamos, mas no infortunado peru que jaz em algum forno à espera do nosso real e pobre conceito de Natal. Alguns, por certo,  me hão de ter na conta de herege, alegando ter sido o galo a anunciar com seu magestoso canto o nascimento do menino Jesus, mas também foi ele a delatar por três vezes, com sua voz esganiçada,  a negação de Pedro. Dou-me pois satisfeito com o anúncio da minha consciência e volto a insistir que "missa do peru" seria uma uma homenagem muita mais justa e, de passagem seja dito, no auge da modernidade parlamentar, posto que é póstuma (consulte as leis de nossa câmara) e celebraria a memória daquele  que, com o sacrifício da própria vida, vem respondendo ao longo dos anos pela "nobreza" do Santo Natal em família.

Outra questão que merece ser objeto de nossa reflexão é o chamado "décimo terceiro salário" que, a meu ver, padece de elementar erro matemático. Ora bolas, por que  décimo terceiro, quando ainda nem temos notícia do décimo segundo? Nem sei se a intenção seria esta mas, com certeza, o fechamento de nossa contabilidade fica seriamente comprometida.  Analisemos: Se recebêssemos o décimo terceiro no dia 02 de janeiro, por exemplo, além de não esbanjá-lo em duas festas consecutivas, estaríamos contribuindo para amenizar o apelo comercial do Santo Natal. Aliás, nesse aspecto, rendo minas mais sinceras homenagens a todos os filiados do  Clube dos Diretores Lojistas que,  estes sim, somente utilizam seu décimo terceiro salário após criterioso balanço do décimo segundo, quando, por mera coincidência, fique bem claro, já nada nos sobra nem deste nem daquele.

De resto, para não mais me alongar,  sugiro que se comemore o natal em duas etapas distintas. A religiosa, que continuaria sendo no dia 25 de dezembro, com a celebração sa santa missa (de preferência e por uma questão de justiça, "do peru"), vivitação de presépios, adoração ao Menini deus, etc. etc.

A outra comemoração, com ceia, vinho francês, caviar, presentes e todo tipo de convenção burguesa seria, digamos assim, vinculada ao  dia primeiro de abril.

Tecnicamente pode não ser uma grande idéia mas, na prática,  poderia surtir resultados econômicos surpreendentes além, é claro, de oficializar certas comemorações natalinas como autêntico primeiro de abril que elas, em verdade, o são.