COM AS "ALTEROSAS" DE FORA

A vontade de ser notado é uma fraqueza comum no ser humano. No entanto, quando a busca da notoriedade atinge a determinados níveis, as pessoas se tornam irritantes, risíveis ou, simplesmente, ridículas. E a mídia, de vez em quando, abre espaço para alguma dessas.

Há gente que faz de tudo para aparecer e há uns tipos que até se tornaram folclóricos, por causa disto. O “beijoqueiro”, por exemplo! Com certeza, muitos ainda se lembrarão dele, um imigrante português que, na primeira vinda de Frank Sinatra ao Brasil, enquanto “the voice” fazia a sua apresentação no Maracanã, driblou a segurança e tascou um beijo na bochecha do cantor americano.

O intérprete de “All the Way” ficou assustadíssimo — deve ter achado que era alguma coisa mais grave — e a sua segurança partiu prá cima do gajo e encheu os seus lábios carinhosos de tabefes. A televisão deu a maior cobertura ao assunto e pronto: não houve mais um evento ou visita de autoridade, inclusive a primeira vinda do papa João Paulo II às terras brasileiras, em que não aparecesse aquele “mala lusitano”, querendo cair de boca nos ilustres. Apanhou muito por causa disto, mas acabou conseguindo a fama que ele tanto perseguia.

Só para lembrar, em busca dessa tal notoriedade e sempre com o apoio da mídia — principalmente, o da mídia televisiva — já vimos um delegado de polícia em Cabo Frio, que proibiu as mulheres de usarem biquínis nas praias; já vimos um juiz de direito no interior de São Paulo, que proibiu aos casais de namorados de se beijarem nas praças e em outros locais públicos; e já vimos até um presidente da República que, talvez por falta do que fazer, proibiu que as candidatas, nos concursos de misses, desfilassem de biquíni na televisão, assim como proibiu as corridas de cavalo. Logo depois, não se sabe se produto do mesmo pileque ou de outro, apresentou sua renúncia ao Congresso.

O Rio de Janeiro teve um prefeito que adorava criar factóides, para chamar a atenção sobre si. Até entrar num açougue e pedir um picolé ele chegou a fazer certa vez, só para que a imprensa registrasse o fato. E no Estado do Paraná, um governador alcançou a notoriedade por escoicear a imprensa e o público, nos eventos aos quais comparecia. Foi o mesmo que numa audiência com o Lula, enquanto o presidente tecia loas ao Projeto do Biocombustível e lhe mostrava umas sementes de mamona, apanhou algumas delas e começou a mastigá-las, como se fossem amendoim. O que gerou um comentário, meio assustado e fora do protocolo, pelo anfitrião: “Isso é veneno, porra!”

Ah, sim! Também houve um delegado de polícia em Salvador que proibiu o uso do topless nas praias sob sua jurisdição. Para ele, exibir os peitinhos ou peitões, só em Porto Seguro, Arraial da Ajuda e adjacências. Mas uma soteropolitana, dessas bem “porretas”, recorreu à Justiça com um pedido de “habeas corpus” preventivo e conseguiu uma decisão favorável do douto julgador.

Foi uma beleza! Aonde a garota ia, também ia a imprensa e, como é fácil imaginar, um séquito de intransigentes defensores do “direito de ir e vir com os seios à mostra”... Isto é que é ter consciência da própria cidadania! O xerife teve o seu momento de glória e a baianinha mais ainda.

Mas não posso pensar neste tema sem me lembrar, também, do episódio que considero a busca mais apelativa que alguém já fez, para conseguir os tais minutos de fama. E, por outro lado, o maior “mico” já pago no Brasil por um político de alto coturno. Que se deu e se passou durante o período de carnaval, na época em que era presidente da República o mineiro Itamar Franco.

Naquele ano, como muita gente ainda se recorda, o presidente, ao contrário do que costumava acontecer, resolveu usar o camarote oficial que lhe era reservado, para assistir ao desfile na Marquês de Sapucaí. Veio e trouxe uma numerosa comitiva, entre ministros, assessores e seguranças. A conduta do séquito presidencial foi execrável. O ministro da Justiça tomou um porre monumental e deu o maior vexame. Melhor dizendo, um dos maiores vexames! Porque o maior, mesmo, quem deu foi o próprio Itamar!

Ao final do desfile de uma das Escolas, o presidente perdeu a compostura e manifestou a vontade de conhecer uma modelo de segunda categoria, que havia desfilado, nua como viera ao mundo, no alto de um carro alegórico, que acabara de passar. E os assessores, como é evidente, cuidaram de providenciar para que a dona da “genitália desnuda” comparecesse ao camarote oficial.

E assim, com todas as emissoras filmando e os repórteres fotografando em close, de baixo para cima, o presidente Itamar Franco decepcionou a tradicional família mineira, posando de mãos dadas com a tal modelo, que ali encontrou o seu momento de glória, até que a comitiva presidencial se retirasse do espaço que lhe fora reservado, no Sambódromo do Rio de Janeiro.

Ele sorrindo, com o “Pico do Itacolomy” em repouso absoluto. E ela, sem calcinha, com “as Alterosas” inteiramente de fora...