JUÍZO NUNCA É DEMAIS!

Já era a madrugada e eu, sem conseguir conciliar o sono, assistia a um programa na GNT, onde quatro mulheres conversavam sobre as coisas do universo feminino, como se estivessem na sala de estar de alguma delas. Bem... “Conversavam” talvez não seja a forma própria de dizer. Antes, “competiam, entre si, pela oportunidade de falar”. E o tema, claro, só poderia ser mesmo o Dia Internacional da Mulher.

Um tema justo e adequado para se tratar naquele dia oito de março, que, ainda na escuridão, esperava cheio de expectativa, pela manhã que viria, com os braços carregados de homenagens, para aquelas a quem seria dedicado. Mas, como eu ia dizendo, na telinha, as quatro mulheres não conversavam: disputavam, entre si, para ver quem falava mais e quem estava com a maior verdade ou a coisa mais original para dizer às outras e aos telespectadores.

Numa coisa, porém, todas concordavam e, espantosamente, até esperavam que uma terminasse de falar, para que a outra continuasse: tudo o que, de mal, acontece no mundo, é por culpa dos homens, do seu machismo exacerbado, de sua ancestral dominação sobre o mundo feminino, de sua insensibilidade para com a mulher, os filhos e a família...

Meninos, eu nunca me senti tão “louvado” na vida! Nem mesmo na época em que eu estava me separando... Teve até um momento em que eu me levantei para ir ao banheiro e, ao passar por um espelho que tenho no quarto, evitei olhar para ele, só para não me ver. Tal a indignação que eu estava sentindo, não apenas comigo, mas com todo o gênero masculino!

Vocês não sabem o que produz nas mulheres esse ressentimento acumulado. Porque não é possível que a emissora tenha conseguido reunir, num único programa, quatro mulheres em período de tensão pré-menstrual! Tive o ímpeto de mandar uma caixa de chocolates para cada uma, só por desencargo de consciência. Mas como, assim no meio da madrugada, não seria possível, deixei isso prá lá.

A “artilharia” sobre os homens era tão intensa, que, numa certa altura do programa, eu me abstraí um pouco e comecei a me perguntar como é que, depois de tanta opinião hostil aos homens, elas conseguiriam entrar em casa e cumprimentar os seus maridos, namorados ou companheiros. Sim, porque se eu vivesse com alguma delas, nessa noite ela iria dormir no sofá da sala!

Pois parece que foi um anjo que soprou aquilo no meu ouvido. Porque o que me ocorreu, deve ter ocorrido, também, a uma que fazia parte do quarteto. E que, de repente, começou a “pisar no freio”... Uma dizia:

— Por que é que, entre os grandes compositores da humanidade, não há nenhuma mulher? Porque os homens sempre reprimiram a criação feminina!

E a tal de lá, com medo de dormir no escritório:

— Gente, isso é questão de aptidão... Há estudos que dizem que o cérebro masculino é mais desenvolvido para certo tipo de habilidades do que o das mulheres, como também acontece o contrário...

Aí vinha a outra:

— A dominação masculina veio depois da invenção do arado! Porque, antes disso, eram as mulheres que coletavam os frutos e os alimentos!

E rebatia a que não queria pernoitar na sala:

— É que o homem tem mais força física, é a natural divisão do trabalho... E por aí foi até o fim do programa.

Estava certa, certíssima, a do “pé no freio”. Porque, Quando alguma coisa está ruim e você não pode melhorar, pelo menos, não piore, por favor! Foi a lição que um velhinho, membro do Conselho Estadual de Cultura de Minas Gerais, deu aos demais conselheiros, num movimento que fizeram — isto lá pela década de 70 do século passado — pelo aumento do “jeton”, que é, como todos sabem, aquela gratificação que alguns órgãos colegiados pagam aos seus membros, a cada reunião.

Naquela época, em que a moeda nacional ainda era o Cruzeiro, os conselheiros do CEC de Minas estavam ganhando duzentos cruzeiros por reunião. Até que descobriram que os membros do Conselho Estadual de Educação estavam recebendo, pelo menos, cinco vezes isso por reunião de que participassem. Foi um “Deus nos acuda!” e, diante da recusa do governo estadual em fazer esta equiparação, alguns conselheiros mais jovens lançaram um movimento pela equiparação, adotando o seguinte “slogan”: AUMENTO DO JETON! MIL CRUZEIROS OU NADA!

Foi aqui que aquele conselheiro, mais idoso e mais experiente, ponderou, junto aos seus colegas mais afoitos:

— Calma, gente! Assim também não! É melhor mudar o lema para: MIL CRUZEIROS OU DUZENTOS CRUZEIROS!

Afinal de contas, duzentos cruzeiros os conselheiros já estavam recebendo. E talvez, as quatro daquele programa da GNT precisassem encontrar uma velhinha com mais juízo, que lhes dissesse:

— Calma, meninas! Se com os homens está ruim, sem eles vai ser muito pior...