NÃO HÁ SANTO QUE DÊ JEITO...

Um dia, olhando a Terra, São Francisco de Assis, padroeiro dos animais, notou que os bichos das várias espécies andavam bem desunidos. O cachorro não se entendia com o gato, os equinos dando coice prá todo lado, os gatos e os ratos aos bofetes, os felinos com aquela mania de comerem os cervos, os jacarés atacando os antílopes... Uma coisa triste! Aí, penalizado e preocupado, procurou São Pedro e lhe disse:

— Homem de Deus, eu preciso de sua ajuda! Os meus protegidos, lá embaixo, estão que não se entendem de jeito nenhum... Falta calma, falta educação, falta paciência e sobra hostilidade!

Aí o “porteiro celestial” perguntou:

— Mas quer a minha ajuda de que jeito? O que é que eu posso fazer? Cuidar deles não é sua responsabilidade?

— Eu sei — desculpou-se o homem de Assis — mas a coisa está tão feia por lá, que imaginei fazer uma confraternização entre eles. Mas para isto, iria precisar da sua ajuda. Porque havia pensado em chamar todo mundo para uma festa aqui no Céu...

— No Céu? E por não faz isso por lá mesmo?

— Porque aqui o clima seria diferente – esclareceu o patriarca dos “Franciscanos”. Aqui eles entenderiam melhor a mensagem: muita paz e muito amor!

São Pedro passou a mão pela barba branca e quedou-se pensativo. Fazer uma festa no Céu seria algo, assim, meio fora do contexto celestial:

— Sei não... E se isso não der certo? Não vou querer nenhuma espécie de desordem aqui no plano superior. E se sair alguma briga?

— Sai nada, meu guru! Garanto que não sai! Vou preparar o clima para que tudo corra na mais perfeita ordem! Quando começar, todos os bichos terão entendido o “espírito da festa”: confraternização geral, muita alegria para todos e muito amor entre os participantes...

Convencido, São Pedro concordou e deu o seu “nada consta”, para que o Santo de Assis tomasse as devidas providências e fizesse os preparativos, inclusive, o convite para a bicharada. De tal sorte que, no dia e hora marcados, foram chegando os bichos, para a grande festa, que prometia se animada. Vinham aos pares, em bandos ou manadas. Mas vinham todos, sem faltar nenhuma espécie de animal, doméstico ou silvestre. Uma coisa para alegrar o coração de qualquer ecologista ou sociedade protetora. Do IBAMA, propriamente, não veio nenhum animal, porque estavam todos ocupados, despachando umas autorizações para a caça e a extração de madeira. Mas desses, ninguém sentiu falta.

Antes que a confraternização começasse, porém, São Francisco pediu silêncio e explicou os motivos e a finalidade da grande reunião, terminando por dizer:

— Portanto meus amados, o que vocês devem fazer hoje é confraternizar-se, buscar a felicidade de todos, e amar-se uns aos outros!

Todos pareceram entender, com o olhar brilhando de alegria e um sinal de assentimento com suas cabeças. O DJ celestial foi autorizado a mandar o som para as caixas e a festa começou. Horas mais tarde, no entanto, o Santo de Assis, que ficara do lado de fora, proseando com São Pedro, achou que a barulheira estava excessiva, com gritos, balidos, zurrados, rugidos, ronronados e gemidos em demasia. Resolveu ir até o ambiente da festa, para pedir um pouco mais de parcimônia nas congratulações, mas, ao entrar, ficou passado de susto. Certamente, deduzia agora, a bicharada não entendera adequadamente seus propósitos, nem suas palavras.

Em lugar do convescote zoológico que planejara, o que via, era uma orgia monumental, com os bichos trocando de pares e se divertindo à larga, sem dar a mínima para aquilo que, cá entre nós, conhecemos como “sexo seguro”. Todos cruzavam com todos e a baderna era geral! Em pânico, o anfitrião mandou parar a música e, do microfone, deitou “falação” prá cima da bicharada. Que aquilo era um absurdo, uma coisa inconcebível, mais ainda, pelo local em que se encontravam, que não haviam entendido nada, quando ele lhes falara sobre confraternizar-se e amar-se uns aos outros!

Fez, ainda, um verdadeiro sermão sobre a falta de responsabilidade que era fazerem sexo daquele jeito, trocando de pares, sob o risco de interferirem no plano original da Criação. E concluiu dizendo:

— O que vocês fizeram é imperdoável! Mas seria menos grave, se tivessem, pelo menos, feito como o jumento, que se preocupou em usar uma “camisinha”...

Ao que o jegue, sem entender nada, protestou:

— Alto lá, meu caro! Que história é essa de camisinha? Isto aqui é a cobra, que está fazendo um “boquete” em mim!

Como se vê, quando a alma é devassa, não há santo que dê jeito...