O AQUECIMENTO

O AQUECIMENTO

José era seu nome. José Carlos não sei das quantas. Morava no Tarumã o guri. Quando eu o conheci, devia ter uns l2 anos. Apelido, Zé da bronha. Zé tinha três paixões na vida: masturbação, futebol e a Juracy, nesta ordem mesmo.

Garoto bom de bola, Zé era muito querido pela vizinhança, sempre pronto a prestar favores e os fazia de bom grado. O problema era que não se continha; se masturbava cinco ou seis vezes por dia e, o que era pior, ainda se orgulhava disso.

- Zé, quantas já bateu hoje?

E o Zé todo cheio:

- Umas quatro!

No bairro havia um time de futebol, o Palmeirinhas, cujo técnico era o seu Moacir que, por sinal, era o pai da Juracy. Seu Moacir trabalhava na Caixa e, nas horas vagas, gostava de lidar com a gurizada ensinando-lhes o que sabia sobre a arte de jogar bola, pois, em outros tempos, fora um bom goleiro no time do Ferroviário, hoje Paraná Clube.

Seu Moacir, como de resto todos os técnicos de futebol, tinha lá suas manias, a maior delas, sem dúvida, era a mania do aquecimento. Se o Palmeirinhas vencia, era porque haviam caprichado no aquecimento; se perdia, o aquecimento fora mal feito.

Antes de uma partida qualquer, enquanto a turma se esmerava no aquecimento, o Zé sumia.

- Cadê o Zé?

- Procura no banheiro!

Não dava outra, tava lá o Zé socando uma bronha.

Pô, Zé! Mas antes do jogo?

- É pra relaxar, seu Moacir, é pra relaxar.

Com 19 anos, o Zé era o lateral esquerdo titular absoluto do Palmeirinhas e namorava firme com a Juracy.

Com relação a esse namoro, havia um único problema. Rapagão forte e saudável, Zé só pensava em transar, porém Juracy, moça recatada e religiosa, só admitia sexo depois do casamento. O que fazer então? Zé teve uma idéia. Por que não ensiná-la a masturbá-lo? Claro que não seria a mesma coisa, mas pelo menos ajudaria a aliviá-lo e não feriria os arraigados princípios morais da Juracy.

E assim foram levando. Quando tinham um tempinho sozinhos à noite, iam para os fundos da casa, embaixo de uma jabuticabeira, e a Juracy descabelava o palhaço do Zé. Com o passar do tempo, vamos no popular, Juracy tornou-se uma punheteira de mão cheia (literalmente).

Numa ocasião, num jogo entre o Palmeirinhas e o Campo Alegre, Zé, que estava machucado, ficou no banco de reservas. O Campo Alegre vencia por dois a zero. Aos quinze minutos do segundo tempo, Zé pediu para entrar.

- Deixa eu entrar seu Moacir. Deixa eu entrar que viro o jogo.

- Calma Zé. E o joelho como é que tá?

- Ta quase bom. Dá pra jogar.

Então vá pro aquecimento e capricha. Você sabe que tudo depende de um bom aquecimento.

Zé, obediente, esmerou-se tanto que quase ficou sem fôlego, mas entrou em campo, marcou dois gols de cabeça e o jogo terminou empatado.

Seu Moacir estava eufórico:

- Eu não falei? Eu não falei? Tudo depende do aquecimento.

Zé foi carregado em triunfo, pois empatar com o Campo Alegre no campo deles era o mesmo que uma vitória.

Quando completou 22 anos, o Zé resolveu que queria se casar. Afinal, já namorava a Juracy fazia muito tempo.

- Seu Moacir, quero falar de um assunto com o senhor.

- De que se trata, meu guri?

- É o seguinte: Estou noivo da Juracy há dois anos e agora chegou a hora. Quero pedir sua filha em casamento.

- Você tem certeza do que está dizendo?

- Absoluta!

- E o emprego?

- Tô firme no Móveis Cimo. Trabalho lá há três anos, o senhor sabe.

- Pois então, que seja. Podem marcar a data do casório.

E assim foi feito. Marcaram a data para o dia 26 de maio, um sábado.

Casaram na igreja do Cristo Rei, numa cerimônia simples, mas até que bem bonita.

Depois do casamento, foram todos para a casa do seu Moacir, onde a festa começou com muito chope e churrascada.

Colocaram a mesa dos recém casados bem embaixo da jabuticabeira, aquela famosa, já bem conhecida do casal.

Ali pelas 4 horas da tarde, Juracy achou que já estava na hora de partirem para a lua de mel que, aliás, seria em Caiobá, onde ficariam num apartamento emprestado por um amigo do seu Moacir.

- Vamos indo, bênhe?

Abraços, despedidas, choro, piadinhas, e foram para o fusquinha do Zé que já estava preparado para a viagem.

Zé abriu a porta do carro para a Juracy e falou:

- Benzinho, espere um pouco que eu preciso ir ao banheiro.

Zé muito excitado ante a perspectiva de, finalmente, poder dar um créu na Juracy, nem fechou a porta direito. Foi direto para o vaso sanitário e iniciou uma urgentíssima masturbação.

Seu Moacir, estranhando a demora do Zé, foi procurá-lo e deu de cara com a cena.

- QUÊ QUE É ISSO, SEU JOSÉ???

- Ops, nada não seu Moacir. E deu uma disfarçada sacudindo o baitelo.

- Como nada? Seu sem-vergonha. Você ainda nem foi pra lua de mel e já está tocando punheta?

- Péra ai, seu Moacir, punheta não. Aquecimento. Eu só estava no aquecimento...

ee.

Elias Ellan
Enviado por Elias Ellan em 23/03/2009
Código do texto: T1501202
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