NADA COMO UM FILHO BEM CRIADO!

Vem aí mais um Dia das Mães e, ao reboque dele, a indefectível exploração do tema, por quem pretende lucrar com a passagem de tão simbólica data. À margem das justíssimas homenagens que todas as mães merecem, eu sempre me divirto, quando se aproxima o segundo domingo de maio, ao constatar o quanto alguns são capazes de “forçar a barra”, para tentar “vender o seu peixe” bem na porta da churrascaria.

“Troque a bateria do carro da mamãe e encha a velha de uma nova energia!”; “Ilumine a vida de quem lhe deu a luz: lâmpadas e luminárias do Empório do Eletricista!”; “Sua coroa tá gripada?! O problema tem solução, nas Farmácias do Gerubal!”; “Não duvide de sua mãezinha: dê a ela, de presente, as camisinhas musicais Pureza!”; “Neste domingo, não deixe a “rainha do lar” esfregando o bucho no fogão: leve para ela o almoço especial da Padaria do Barbosa!”.

Parece brincadeira, mas, de fato, não é. Porque, pondo de parte a caricatura da situação, o que se ouve, às vezes, em tais ocasiões, é algo muito próximo disto. Afirmo, sob pena de perjúrio, que já ouvi sugestões quase tão surrealistas quanto estas. Como, por exemplo, as de que o presente ideal para a mãezinha querida é uma furadeira elétrica, um jogo de pneus para o carro dela ou uma enceradeira nova.

Pode uma coisa dessas?! Dá para imaginar a estupidez da publicidade? “Facilite a vida de quem você ama: no Dia das Mães presenteie a pessoa mais importante do mundo com uma enceradeira da loja tal!”. Mais estúpido do que isto, só aquele caso, conhecido por muitos, aqui na cidade em que eu moro, de um português que mimoseou a própria mulher, dando-lhe, como presente de aniversário, nada menos do que um escovão. Não é piada. E o “gentleman” em questão tem um filho que já me confirmou esta história.

Tenho um amigo, no Paraná, que é dono de uma floricultura. E a propósito desta ditosa efeméride, já me contou alguns casos tão malucos, que mais parecem brincadeira. Certa vez, por exemplo, um sujeito entrou na loja e encomendou um arranjo de flores para ser entregue na casa da mãe dele (dele, o freguês, naturalmente). Na hora de pagar, pediu que recebessem contra a entrega.

— Mas como? Perguntou a vendedora. O senhor vai estar lá na hora?

— Acho que não, mas não tem problema. A mamãe paga e depois eu acerto com ela...

É tanta “doideira” como esta, que já sugeri ao meu amigo que inovasse um pouco, criando na floricultura duas seções diferentes. Uma, para a chamada “rainha do lar”, com flores de todos os tipos e variedades. Outra, para as sogras, só com cactos... E daqueles com bastante espinho! Porque, se o sujeito faz uma dessas com a própria mãe, imagine o que ele não é capaz de fazer com a mãe dos outros...

Apesar de tudo, não podemos nos esquecer que toda sogra sempre é mãe também. E trago comigo uma convicção muito particular que, apesar de todo o folclore que gira em torno da relação genro e sogra, o grande problema de relacionamento, neste caso, não é com os genros, mas com as noras. Porque as mulheres são competitivas, por instinto e natureza. E os genros, obviamente, não se avultam como competidores para elas.

Sogra e nora competem por muitas coisas, eventualmente, de maneira explícita; mas na maior parte das vezes, de uma forma subliminar, ambas procurando ganhar terreno e obter apoio para a sua causa, junto ao filho/marido. Reconheçamos que, neste caso, as mães do tipo possessivo levam alguma vantagem, porque começam a preparar esse terreno ainda muito cedo, tão logo o filho arranja a sua primeira namorada. Ou melhor, tão logo a primeira namorada arranja o seu filho, para ser mais preciso.

Como naquela pequena história do rapaz recém casado que, todos os dias, chegava à casa para o almoço e a mulher, sem grande experiência na cozinha, punha à mesa, uma carne assada, tentando fazer o mesmo que — segundo ele lhe dissera várias vezes, durante o namoro e noivado — era a especialidade culinária da sogra dela. Mas, por mais que tentasse, a jovem esposa nunca conseguia acertar o ponto certo do assado. E o marido, cheio de carinhos, dizia que estava maravilhoso, muito saboroso, mas não era o mesmo gosto da carne assada que a sua mãe preparava.

Até que um dia, preparando o almoço, a mulher distraiu-se ao telefone com uma amiga e o assado queimou, lá no forno. Desesperada, porque não havia tempo de fazer mais nada, já quase na hora de o maridinho chegar, ela retirou a parte mais queimada com uma faca, jogou um molho por cima e colocou na mesa, pedindo a Deus que ele não se desencantasse, de vez, com a sua inabilidade culinária.

O marido serviu-se, provou o primeiro pedaço e mastigou, olhando para o teto. Ela, angustiada pela reação que haveria de vir. Ele provou o segundo pedaço, abriu um sorriso e disse, com um ar de aprovação:

— Querida, finalmente, você acertou fazer a carne da mamãe!

Como se vê, nada como um filho bem criado, para achar que a mamãe tem sempre razão...