O CAIPIRA, A NAMORADA E O CAFÉ

O vaqueiro Quinzinho estava contando um causo em uma roda de potoqueiros:

Gente, eu tava num pagode lá no Santana, e reparei numa morena bunita disacumpanhada, e cumecei a rastá a asa pra riba dela. Chamei ela pra dançá e fiquemo dançano muitos toque siguido. Hora que ela cansô, fiquemo prusiano e ela me apresentô pra mãe dela. Hora de í imbora, a veia me cunvidô pra i lá na fazenda dela, mode cunhecê o resto da famía.

A bocada era boa, fazendera viúva, fia bunita, famia piquena, né? No outro dia, no dumingo de tarde, pidi um cavalo imprestado meu patrão, a arriata do fio do patrão, vesti a ropa miozinha que eu tinha, camisa e carça xadreis, lenço vermeio no pescoço, butina gomera nova, que tava até lumiano e fui lá na fazenda da moça. Chegano lá na portera, apiei pra abri ela, topei cum o Zé Coquero que me priguntô que eu ia fazê na casa da viúva. Rispundi que ia namorá a fia dela, a Juaninha. Ele falô:

-Ih, se fosse ocê num ia lá não, aquela véia é feiticera, ela já casô duas fia cum mandinga. Num come nem bebe nada que ela te oferecê não, ela cua café nas carcinha das fia e dá pros genro bebê, é bebê o café e tá casado.

-Cumé qui é? Café cuada nas carcinha?

-É, a moça tem que ficá 7 dia cum a carcinha sem tirá, e aí ela cua o café cumo se fosse cuadô...

-Casquei fora!

Dispidi do Zé e cabei de chegá. Fui muito bem ricibido pelas duas e pelo cunhado que tava lá. Cunversa vai, cunversa vem e a véia falô que ia lá dento passá um cafezinho. Eu já fiquei de butuca ligada. A veia sumiu pra lá e a moça foi lá buscá o café. Casa de roça num tem porta,né? é só umas curtina de pano, eu vi a véia cuchichano cum a Juaninha. Ela veio cum a cafetera e uma tigela do tamanho dum pinico, dava até pra lavá a cara nela. Ela encheu essa tigela e o café tava até saino fumaça. Eu peguei a tigela e fiquei matutano um jeito de jogá o café fora. Aí eu falei cuela:

-Cê pudia buscá uma caxa de fosque pra mim, eu quero apruveitá o café e fazê boca de pito, isquici a minha binga.

Ela foi lá na cuzinha buscá o fosque, e eu tava perto da jinela, e virei essa tijela pra fora. Tinha um cachurrinho véio e sarnento drumino dibaxo dessa jinela, o café caiu todo na cacunda dele... Ah, esse cachorro aprontô o maió iscaracéu, ganino, latino. A moça veio cum o fosque e ficô incomodada cum o baruião do cachorro. E eu fingino de isquerdo. Eu tava cum a tigela vazia e falei:

-Eita cafezinho bão! Aí o cachorro foi entrano dento de casa cum o pelo todo breiado de café... Eu quais murri de vergonha... falei cum ela que tinha caído um musquito na tigela e eu joguei o café fora...

Ela quis me sirvi outro café, eu fiquei dispistano, num quis mais não. Logo, logo me deu uma pressa di í imbora, eu nunca mais vortei lá...

Muito tempo despois fiquei sabeno que a Juaninha tinha casado cum o Zé Coquero, ele tinha inventado aquilo mode me tirá da jogada...

* * *