A VÉIA E O VENTO

O vaqueiro Quinzinho contando mais um de seus causos:

Gente, uma veis, nois tava num mutirão na capilinha de Santo Antonho lá no Gamelão. Nois tava aprumano um rancho lá, pra fazê um rancho alegre, mode arrecardá um dinhero mode fazê uma reforma na capilinha. O maderame da capela tava todo pôde, miaçano caí im riba do padre, do povo e da istauta do Santo. Era muié, minino, véio, todo mundo ajudano, todo mundo, os pobre, né, rico num ajuda. Uns cortava sapé, otros bambu, imbira, cipó.

Nois tava na lida trabaiano todo mundo intusiasmado. Na hora do armoço que era bão, O Tião Frivura que tinha um alambique, levava um garrafão de pinga e nois mitia os peito. Uma tarde o ranchinho já tava quais pronto, cumeçô um ventania dos inferno, aquelas nuve de puera, o vento quereno intê carregá o rancho, avuano vasilha, chapéu e boné pra todo lado e eu reparei que uma veinha a D. Maria fiadera tava cum as mão na cabeça acudino o chapéu e isqueceu que a saia dela tava subino iguar balão de São João. A saia dela ia lá nos peito, tampava a cara dela e apareceno os baxero dela e ela nem ligano. Ela garrada no chapéu e a saia pareceno bandera no mastro. Eu num guentei e falei cuela:

-D.Maria, a sinhora ta acudino o chapéu e ta isqueceno do resto, ta apareceno a carcinha da sinhora...nois ta veno tudo...

Ela sigurano o chapéu falô bem arto:

-Quinzinho o que oceis ta veno, tem quais oitenta ano, importa me lá, agora o chapéu é novo, comprei ele onte...

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HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 06/07/2009
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