LEMBRANÇAS DA INFÂNCIA

Certa noite, encontrei-me com Valdirinho meu irmão, sentamos no banco da pracinha e começamos a conversar fiado e lembrando dos tempos de criança.Ele me perguntou:

-Você se lembra do Belchior surdo?

-Claro que me lembro, aquele velho ranzinza, surdo que nem tiú, que fazia armadilhas para pegar as galinhas dos vizinhos...tinha um vasto pomar, e eu e o Tortelo de vez enquando entravamos lá para roubar frutas...

-É aquele mesmo, certo dia eu fui aplicar uma injeção em um cliente de minha farmácia e passei por lá, a casa ainda existe, fiquei lá um tempão, me lembrando dele...

-Eu também sou saudosista, sempre que passo por ali, fico me lembrando de nossos vizinhos, o Aguimar, aquele aleijadinho, que ficava sempre em cima de um carrinho de mão, que sabia trabalhar com ferramentas, fazia carrinhos de carreteis, revolveres de madeira...

E a D. Maria piquena, que fazia aqueles biscoitos de fubá, assados em folhas de bananeira, os deliciosos "João deitados".

E dando um suspiro falei:

-A D. Maria... que Deus a tenha!

Valdirinho falou:

-Pera lá, a D. Maria não morreu não!

-Morreu sim, há uns dois meses.

-Que isso sô, eu tava vino dum forró, semana passada e encontrei com ela ali perto do campo do Independentes...

Eu falei rindo:

-Bão, então, hora que você encontrá com ela de novo, corre, é assombração, eu fui no enterro dela...

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