O BÊBADO E O PILOTO DE AVIÃO

Quando eu era criança, um avião sobrevoava nossa pequena cidade, a molecada toda corria para nosso “aeroporto internacional”, um pequeno campo de pouso, de terra, onde somente aterrissava, pequenos monomotores os populares “teco-tecos”. Certa vez um pequeno avião monomotor de passagem, com problemas, fez um pouso forçado em nossa cidade. O piloto, que era também mecânico, logo detectou o defeito: uma engrenagem quebrada. Coçou a cabeça, sem saber o que fazer, perguntou a um curioso como faria para encontrar uma peça de reposição. O cidadão disse que só em Belo Horizonte, distante 240 km de estrada de terra ruim. O cidadão ao ver a peça quebrada disse:

-Aqui em Abaeté, tem um torneiro mecânico, que pode fazer essa peça, só tem um problema, ele vive bêbado. Nisso, foi chegando um dos poucos carros de praça de nossa cidade, o piloto, embarcou nele, para procurar o torneiro para fazer a peça. Perguntou ao motorista se ele conhecia o profissional. Ele respondeu:

-Quem não conhece? Ele é um artista, um “factotum” já foi até preso, por fabricar uma metralhadora... é só ir lá no Bar Brasília que ele deve estar tonto por lá...

Dito e feito: chegaram ao bar e ele estava escornado em uma mesa. Acordaram-no e explicaram a situação. Ele cambaleando, prontificou-se a fazer a peça, precisava de dinheiro, para pagar ao dono do bar, sua gorda conta. Foi à oficina e em pouco tempo, estava pronta a peça. Foram fazer o teste no avião. Enquanto o piloto trocava a peça, o torneiro embaraçando-se nas próprias pernas rodeava o avião, que estava em mau estado. Ele com a língua enrolada, disse:

-Duvido que essa merda saia do chão...

O piloto ouviu, e disse:

-Só se sua peça não prestar!

Após colocar a peça, o motor funcionou perfeitamente. O Piloto satisfeito, perguntou o preço.

O Torneiro deu um preço salgado.

O piloto perguntou:

-De que material você fez a peça? De ouro?

-Não, de aço de Solingen, ficou melhor do que a original.

Ele pagou, pois se fosse pedir uma peça de Belo Horizonte iria ficar muito mais caro. Foi entrar no avião e o bêbado disse de novo:

-Dou o rabo, se essa merda levantar vôo...

O piloto já irritado disse:

-Venha, vou dar uma volta com você para ver o que essa máquina é capaz!

O bêbado sempre teve vontade de andar de avião, topou a parada. Entrou sentou-se ao lado do piloto que o prendeu com o cinto de segurança. O piloto saiu do avião e foi olhar se tudo estava certo. Embalado pelo balanço do avião em marcha lenta, logo o torneiro ferrou no sono. O piloto entrou, decolou e olhou para seu passageiro que estava com os olhos fechados. Ele pensou:

-Ele está com medo, vou fazer umas gracinhas. E começou a fazer acrobacias sobre a cidade, dava vôos rasantes sobre os telhados, parafusos, “folhas secas”. Após vários minutos de manobras radicais, resolveu pousar. Olhou o passageiro sempre de olhos fechados. Desceu abriu a porta e disse, sacudindo-o:

-E aí, o que que achou da máquina?

O torneiro assustado falou:

-Como é, essa merda vai voar ou não?

* * *

HERCULANO VANDERLI DE SOUSA
Enviado por HERCULANO VANDERLI DE SOUSA em 03/08/2009
Código do texto: T1733933