VALSA PARA UM MARIDO!
O honrado desembargador Liberato,viúvo há quinze anos pediu em casamento a filha do Dr.Bezerra,banqueiro,afável e muito rico.
A noiva,Maria Bernarda,era uma ótima garota, que os quinhentos contos de réis do dote,faziam excelente.
O amigo leitor já percebeu que esta é uma estória antiga,do tempo que  se pedia a mão das moças,embora levassem o resto ,acompanhado de dotes polpudos e  a sempre exigida virgindade.
-Concedo-lhe a mão,com muita satisfação,mas,devo ser franco com o amigo;é uma boa menina,mas, precisa ser vigiada.
Aliás,falou com muita seriedade,qualquer mulher deveria ser vigiada,isso evitaria incômodos e nada dignos,enfeites de cabeça.
Mas,continuando:a moça é inteligente,amorosa,sebe bordar e costurar muito bem.canta como uma cotovia,toca belas valsas de Strauss e fala o francês corretamente.Mas,quero preveni-lo:nada de divãs,sofás ou canapés,na sala;se puder,evita até poltronas ou cadeiras muito confortáveis.
O magistrado arregalou os olhos,pois,não podia atinar onde o amigo queria chegar.Que despropósito!
-Espera,eu explico;foi um canapé que desgraçou essa família.
Como esposa, a bela Marina,nunca enfiou um homem na minha cama.
Fiquei tranqüilo,mas, por desgraça, nunca me preocupei com a sala.Não diga que não foi avisado;nada desses móveis confortáveis e acolhedores na sua  casa.
Ponha cadeiras pequenas e pregadas no chão para que não se juntem,mesas pequenas de centro que só cabem um jarro;nade de mapples,cadeiras cômodas,entende?
-Entendo, entendo e...agradeço ao amigo.Graças à minha profissão sou um homem arguto.
Passou-se um ano,outro e no meado do terceiro estava o banqueiro fazendo a sesta quando irrompeu porta a dentro,como um tufão,apoplético,o desembargador.Vermelho,suado,as mãos frias,o cabelo despenteado.
-Uma desgraça,meu amigo!
-Pára de andar prá cima e prá baixo e,fala,homem de deus.O que aconteceu???
-Minha esposa tem um amante.E é o seu afilhado,o Souza!
_Não me diga!
O velho empalideceu,pasmo.Como você descobriu?Onde?
_Eu surpreendi os dois.Eu mesmo!Estou desesperado, Bezerra!
_No seu leito!?Como é possível!Na cama do casal?
_Não,na sala de visitas!
_Lá?Mas,não lhe avisei para tirar sofás e poltronas?
_Fui estúpido,fui idiota,fui irresponsável,amigo!A rapariga me pediu faz tempo e eu lhe dei um maldito e enorme piano de cauda!?
 
 
 


Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 03/09/2009
Código do texto: T1790219
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