CONVERSA DE BOTECO

Aposentado, vez por outra Netão aparece no botequim. Toma uma latinha de cerveja e conta história do tempo que fora comerciante:

Nosso time jogou durante 25 anos no gramado do Batalhão de Polícia. Pagávamos três mil reais por ano... Logo, um bancário, também aposentado, interveio, vocês gastaram setenta e cinco mil reais nessa temporada ...

A conversa parecia enveredar-se nos ramos da economia.Porém, Netão com mais de 60 janeiros nas costas e muita estória pra contar, retoma o assunto:

Paramos depois de vinte e cinco anos e o time era praticamente o mesmo formado há mais de duas décadas. Vez por outra, entrava um ou outro jogador que não fazia parte da equipe pioneira, jogava uma partida e ficava só naquela. Era sempre alguém apanhado na plateia – muito restrita, por sinal. Nunca superior a meia dúzia de espectadores.

Na verdade, gente que ficava ali o tempo todo fazendo figa para um jogador se machucar e um espectador ser convocado para recompor o time.

Naquele fatídico dia, só tinha um torcedor , por força do costume, um reserva, em caso de emergência - nada programado, tudo fruto da casualidade.

Radicado há algum tempo em Montes Claros, o torcedor era um japonês e não falava bem a língua portuguesa utilizada no Brasil. Ainda assim, fora chamado, não havia outra opção a não ser deixar o time desfalcado...

Durante 15 minutos o japinha não acertou um passe nem deu sequer um chute na direção da trave adversária. Ocorreu que, em dado momento, japinha sai tocando a bola e avança com velocidade. Passa por ele o capitão do time e grita:

- Ô japonês ruim de bola, sôr!

Japinha responde no mesmo tom: “Vá tomar na cua”. E chuta a bola de qualquer jeito.

Seu adversário mais próximo era o goleiro, que, tendo ouvido o “vá tomar na cua”, não segurou, escancarou uma gargalhada daquelas de fechar os olhos e escorrer água nos cantos da boca....

A bola passou por baixo de suas pernas e foi parar atrás “da cua.”