COMO GASTAR DINHEIRO SEM NECESSIDADE

Gleice até que é uma pessoa legal, mas vaidosa a toda prova. Outro dia, acertou uma quadra num desses jogos lotéricos bancados pelo governo,um bom dinheiro, aproximadamente R$ 8.000,00. Há tempos que Gleice gostaria de comprar um Tailler bem moderninho para trabalhar, daqueles que a Ivana, esposa do seu chefe, usa, e agora chegou a hora. Entretanto, Gleice também tem o tratamento dentário quem vem protelando há muito, os pequenos reparos na casa, o fogão novo, uma geladeira nova, em suma,muita coisa mais importante que a droga da roupa, até porque, sendo vaidosa do jeito que é, até que, com relação a vestuário, a mulher anda muito bem para a situação financeira que tem. Saiu de casa com endereço certo, a loja “MODAS FEMINAS”, uma casa que não chega ser o que podemos chamar de vitrine da moda francesa, mas é melhor que a maioria das lojas de liquidação.
- Bom dia senhora! Em que posso ser útil?
- Bem queridinha, estou querendo dar uma olhada num Tailler, de preferência, em tom pastel, o que você tem ai pra mim?
- Ah! A gente tem uns recém-chegados, a coisa mais linda do mundo, super na moda. Vou lá em cima pegar. Deixa eu ver seu número...aqui, olha só que maravilha!
- De fato são bonitos, vou experimentar.
- Entra aqui querida, experimenta esse bege e veste essa camisa por baixo, vai ficar lindo em você. Depois te mostro uns sapatos pra combinar... A gerente da loja viu o entusiasmo da sua jovem e iniciante vendedora, mas também desconfiou da condição financeira da cliente, pois viu que a Gleice descera de ônibus bem enfrente a loja e achou que sua vendedora estava exagerando na oferta e chamou a menina:
- Dora dá só um pulinho aqui..., Essa mulher não tem cara de ter dinheiro para isso tudo, vai devagar com ela.
- Sim senhora.
- Como é, gostou? Temos outras coisas viu, até porque, só entre nós, o preço dessa ai é meio salgado, se você quiser...,olha só, nós temos outros aqui bem mais em conta...
Para uma mulher vaidosa como Gleice , aquela observação de preço salgado foi como se fosse uma ofensa.
- Que isso minha filha? Não visto qualquer coisa não.
- Desculpa senhora, não queria ofende-la.
- Pois é, se quer saber, não quero só isso não, vou levar ainda, outras coisas, não estou perguntando por preço.
De repente a gerente chega, sem ter ouvido o diálogo entre Gleice e a vendedora e pergunta:
- A senhora vai parcelar em quantas vezes? É que a gente tem analisar os dados, sabe como são essas financeiras, agente pode já ir adiantando, assim a senhora não precisar esperar muito tempo.
Já era demais Para Gleice, aquilo era o cúmulo, parcelar, onde já se viu?
- Desculpe minhas queridas, mudei de idéia, acho que as roupas aqui são simples demais, baratinhas. Preciso de alguma coisa mais elegante.
Saiu sem dizer mais nada e como se quisesse que as moças da loja vissem (e queria), entrou bem na outra loja em frente, essa, bem mais cara e famosa. Foi lá e comprou vários conjuntos de ternos, gastando praticamente todo o
dinheiro, mas se sentiu vingada, principalmente porque parou em frente a loja anterior, onde tomou um táxi, não sem antes chamar a moça que a atendera e dizer:
- Querida, quase R$ 4.000,00 em compras.Dando um sorriso, entrou no táxi e foi embora.
Quando chegou em casa, um dos ternos estava com uma linha solta, defeito pequeno, mas o suficiente para faze-la voltar no dia seguinte para trocar o Tailler comprado.
- Bom dia estive ontem aqui fazendo umas comprinhas (muito chique a mulher) e um dos ternos está com defeito, gostaria que vocês trocassem por gentileza.
- É claro senhora, deixa ver a roupa. Ah, que coisa, mil desculpas, a gente vai providenciar a troca pra senhora imediatamente. Saiu e foi ao andar de cima. Voltou alguns minutos depois um pouco constrangida:
- Querida, mil desculpas, aguarde mais um pouco porque estamos sem o modelo aqui, mas a vendedora já ligou para a outra loja e eles virão trazer um terno novo.
- Fica muito longe, estou com um pouco de pressa.
- Não senhora, é aqui bem em frente, aquele ali oh, a “MODAS FEMINAS”, é o mesmo grupo. Sabe como é, o mesmo dono.

Jose Carlos Cavalcante
Enviado por Jose Carlos Cavalcante em 23/06/2006
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