O CAIPIRA QUE FALAVA INGREIS

Quinzinho contando mais um causo:

Gente, nois tinha um cumpanhero de sirviço que era tupitudo, quiria sê mais do que os otos...Ele falava que era de famia rica, que quarqué hora ia pra cidade istudá...que num ia fazê sirviço pesado a vida toda não. Era o Tunico fim de semana. Ele tinha esse apilido, purque toda semana, ele pidia adiantamento pro nosso patrão mode í lá pra cidade, fazê o que, Deus sabe.

Ele tinha um tiquinho de leitura, e toda veis que tinha missa lá na capela, ele ficava sabucano o padre, mode o padre dexá ele fazê uma leitura na missa. Ele inté que lia bão. Ele num era bobo não. Uma veiz ele foi pra cidade e num vortô mais não. Um dia eu topei cuele na cidade e ele falô que tava ino pros Istado Unido. Eu num querditei naquilo não. Achei que era mintira dele. Mais despois fiquei sabeno que ele tinha ido pra lá mesmo. Ele tinha uns parente que tinha ido pra lá e que tava bem de vida. Eles veio passiá aqui e resorvero levá o Tunico cueles.

Muito tempo despois, o Tunico vortô lá no Gamelão, todo impiriquitado, cum ropa nova, riluginho de purso, butina de camurça, cordão de oro, pareceno uma arve de natal. Chegô falano uns trem isquisito, ninguém tava intendendo nada, acho que era o tar de ingreis. Nois tava uma turma na venda do Curiango, bebeno pinga e jogano baraio, quando ele foi chegano cum nariz im pé.

Um dos cumpanhero, veno ele naquela mitideza toda, num guentô e falô bem arto:

-Oia só a chiqueza do Tunico fim de semana...

Ele respondeu pra todo mundo iscuitá:

-Tunico fim de semana não, Tony Weekend...

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