MEU NOME ? É TÊNIS

- Nasceu, é um menino- gritava o pai, todo contente, apesar de ser seu quinto filho, era seu primeiro filho homem. Uma lágrima rola sua face, era realização de um sonho.Amava suas filhas, mas durante anos esperou por esse menino.

Dona Beth e seu Rodolfo,eram de família pobre, ambos estudavam e trabalhavam para ajudar suas famílias. Quando se conheceram ( ele com dezoito, ela com quinze), foi amor a primeira vista. Viram-se numa festa da comunidade onde moravam e o amor falou mais alto. Se apaixonaram, e com esse amor surgiram vários problemas.

Naquela época os pais, não falavam sobre sexo com seus filhos, nem a escola ensinava, então logo na primeira transa, ela ficou grávida. Foi um escândalo para a família, e antes que a barriga desse comentários, casaram-se e foram morar num sobradinho alugado.

Com a vida difícil, criaram essa criança, mas num certo vacilo repetitivo, Beth engravidou mais quatro vezes. Teve quatro meninas e um menino, que acabou de nascer. Rodolfo, trabalhava numa pedreira, o salário mal dava para dar de comer para sua família. Beth para ajudar vendia produtos caseiros, mas nem sempre se tinha um rendimento esperado.

Desde pequenas, as filhas do casal já trabalhavam para ajudar na despesa de casa, saiam vendendo as coisas que a mãe preparava, limpava os quintais dos vizinhos sempre em busca de uma misera moedinha,que possivelmente lhes tamparia o buraco do estomago.

Mesmo com a vida difícil, ambos sonhavam com esse menino, que se chamaria Dênis.Quando ele nasceu, foi como um choque de esperança para a família.Pensavam que esse futuro homem poderia mudar o destino incerto dessa família miserável.

Mãe e filho, estavam bem, já estavam em casa,então era hora que fazer o primeiro ato de cidadania de Denis, o registro de nascimento. Rodolfo, com coração saltitante foi registrar seu filho, seu cabra-macho, o orgulho da família.

Chegando no cartório, uma senhora bem velhinha, mais para lá do que para cá, atendeu Rodolfo, com muita boa vontade embora fosse quase surda. Na hora de registrar o menino, ele pediu para que ele repetisse o nome umas dez vezes. Depois que achou que tivesse entendido, sentou sua bunda gorda na cadeira, e começou a espancar a máquina de escrever, que por sinal já não funcionava bem, visto que de tão velha já havia perdido algumas teclas.Depois de meia hora de briga entre a velhinha e a maquina, saiu o registro de nascimento do menino, Rodolfo eufórico pegou a certidão e foi embora sem ver se estava com todos os dados corretos.

Entrou no primeiro ônibus e foi direto para casa, levar o documento que provaria o nascimento do seu filho.Quando chegou em casa, Beth pediu para ver, e quando começou a ler teve uma surpresa desagradável.A dona gorduchinha do cartório, havia registrado o menino de Tênis da Boa Morte, o sobre nome estava certo, também pudera ela copiou da identidade do pai. Mas Tênis? De onde ela havia tirado isso?

Sem recursos para pagar um advogado, e onde moravam não tinha defensoria publica, deixaram assim mesmo, e batizaram o menino de Tênis.

E Tênis cresceu em meio as crianças da sua idade, sempre sendo motivo de brincadeiras e piadas de mal gosto. No seu aniversário de quatro anos, sua avó lhe deu uma festinha, e todos os convidados lhe deram tênis de presente. Fora os “apelidos carinhosos” que lhe davam, (chuteira, botinha, galocha). O menino sofria, e os pais nada podiam fazer por Tênis.

Os pais sofriam com aquilo, alem de ser pobre, negro, tinha que sofrer discriminação por causa de um nome.E ele foi crescendo em meio a dor de ser pisado, tal qual um tênis.Tênis já estava com mais de dezoito anos, e nunca tinha ficado com uma menina. Toda vez que se aproximava de uma e falava seu nome, elas riam ou simplesmente fugiam. Ele sofria com aquilo, mas acreditava que um dia poderia deixar de ser o Tênis.

Alguns anos se passaram, e uma família de advogados renome se mudou para a pequena cidade. E logo ficaram sabendo da fama de Tênis, e se interessaram pelo caso. Pai e filha eram advogados, e ambos se apaixonaram pela causa, ela um pouco mais, pois tinha gostado de Tênis, que nessa altura fazia supletivo de segundo grau.

Pela primeira vez Tênis foi tratado com dignidade, e sentiu de perto o gosto de um lábio feminino. Antes mesmo se mudarem o nome, ele já tinha namorada, e uma bolsa na faculdade, para cursar direito que o pai da moça teria conseguido.

E processaram o cartório, que lhe teve que pagar uma indenização vitalícia, ele cursou direito, mas decidiu não mudar de nome, tinha alcançado uma dignidade. Hoje Tênis é doutor, e se casou com a única que lhe deu a mão.

Ontem nasceu seu filho, Tênis Junior, ele a esposa decidiram o chamar assim, e já pesam em futuramente em ter uma Galoxa.

A Confessora
Enviado por A Confessora em 07/10/2009
Reeditado em 09/10/2009
Código do texto: T1853313
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